A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

13 setembro 2022

FAZENDO-NOS HUMANOS...

 

                                                                                                         (Fotografia de Luís Borges)

“O mundo não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui forma…

E sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem…

Mas, é assustador perceber que hoje vivemos segundo o nosso exclusivo ponto de vista…

Sim, entendemos... É uma questão de sobrevivência…

Ou, será de naufrágio?

E tudo isto começa para todos nós logo na infância…

Com tantas carências nem sempre explicáveis…

Sempre expostos a fatalidades e imprevistos contra os quais nada nos defende…

E assim vamos crescendo, criando barreiras…

E, ao mesmo tempo, lançando pontes com o que nos rodeia…

Mas, de uma coisa temos de estar conscientes:

- Não somos apenas levados à revelia pela corrente…

Somos participantes!

E, por isso, em vez de atores ativos de uma tragédia…

Temos de ser audazes para mudarmos para melhor…

Pois, só assim poderemos erguer as paredes da maturidade…

E culminar o telhado da velhice…

Ainda que sendo esta deterioração…

E assim, vamos construindo uma figura:

- Quem queremos ser… Quem pensamos que devemos ser…

Constituir um ser humano é, pois, trabalho constante que não concede descanso…

Haverá paredes frágeis, cálculos mal feitos, fendas até…

 Quem sabe um pedaço de nós irá até ruir…

Mas também se abrirão janelas para a paisagem e varandas para o sol…

E, no final, o que se produzir, casa habitável ou ruína estéril…

Será a soma do que pensaram e pensamos de nós…

Do quanto amámos e nos amaram… E nos amamos…

Do que nos fizeram pensar que valemos…

E do que fizemos para confirmar ou mudar tudo isso…

Mas, não se pense que é tão simples assim…

 Nesta argamassa misturam-se boa-vontade e equívocos, sedução e celebração…

Afinal, uma dança de máscaras sobrepostas…

Atrás das quais somos o objeto da nossa própria inquietação…

E é esta ambiguidade que nos dilacera e alimenta...

Mas nos faz, afinal, mais humanos…”


(Inédito)

A TRISTEZA... QUE CONFORTA O MEU CORAÇÃO...

 

                                                                                                        (Fotografia de Luís Borges)

“Alguns dos que me leem, têm se queixado…

Dizendo que há muita tristeza nas entrelinhas que escrevo…

Questiono:

- Mas, não foi arte de Deus, misturar alegria e tristeza?

E depois… Cá para mim…

É melhor a tristeza que o riso….

É que, por vezes, a tristeza do rosto faz-nos melhor ao coração…

E pelo prazer da tristeza…

Advém-me alguma felicidade de não precisar de estar alegre…

A poesia nasce, pois, também na tristeza…

Já dizia Caeiro que era também muito amigo da sua tristeza:

- «Minha tristeza é sossego porque é natural e justa e é o que deve estar na alma»…

Hoje até confundimos estar alegre, dizendo coisas engraçadas…

Querendo que os outros riam…

Quartando-se a liberdade do outro estar triste...

Como alguém alegre, pode gozar o silêncio triste da beleza do crepúsculo?

Caros amigos, leitores… Podem ficar tranquilos…

Sou triste, sim!

Mas a minha tristeza é natural em mim…

E é o que me corre na alma…

E depois…

Reforço o que disse lá atrás:

- A tristeza do meu rosto faz melhor ao meu coração!”


(Inédito)

VER... COM OLHOS DE VER...

 



“Cada dia que passa, penso para mim mesmo que estou louco…

Hoje, tudo o que vejo me causa espanto…

Mas, quando leio, percebo que esta perturbação ocular é comum entre os poetas…

Sim, os poetas ensinam-nos a ver…

E ver é coisa muito complicada…

E mais, ainda, nos dias de hoje…

Em que os olhos deixaram de ver a beleza e só vêm lixo…

Por isso, agradeço a Deus…

Por me ter dado estes olhos que vêm poesia… Em tudo o que existe…

A maioria até tem uma visão perfeita…

Mas, nada vêm!

Como diz Caeiro:

- «Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios»…

Ah! Hoje até os olhos não gozam…

Quando são mais um nosso órgão de prazer…

Gostam de olhar pelo prazer de olhar…

Querendo fazer amor com o mundo…

A mim, os olhos têm-me ensinado tudo…

Ensinaram-me até como uma pedra é bela…

Quando a temos na mão e olhamos devagar para ela…

Como é, pois, maravilhoso olhar com os nossos olhos…

E ver… Com olhos de ver…

Vislumbrando os assombros que crescem nos desvãos da banalidade quotidiana…”


(Inédito)

12 setembro 2022

KAFKA...

 

                                                                                                                        ('Post' da internet)

“O meu primeiro contacto com Kafka foi quando li o seu primeiro livro…

Creio que ‘Onze Contos’…

Kafka escrevia de maneira tão simples que me chamou a atenção…

Pois, eu conseguia entendê-lo…

E não é fácil ler um impressionista… Influenciado pelo barroco…

Ainda por cima, quando joga com as infinitas possibilidades do idioma alemão…

Com Kafka aprendi a ter em conta a referência local, a conotação do tempo e do lugar...

Mas, também, percebi nos seus textos onde se estabelece o eterno…

As suas fábulas são tão antigas como a história…

É possível pensar que foram redigidos na Pérsia ou na China e aí está seu valor…

E quando Kafka faz referências é profético…

O homem que está aprisionado por uma ordem…

O homem contra o Estado...

Esse foi um dos seus temas preferidos…

Li, também, o seu livro de contos ‘A Transformação’…

E nunca percebi porque decidiram chamá-lo ‘A Metamorfose’…

Acho que os contos são superiores aos seus romances...

Que, por outro lado, nunca terminam…

Têm um número infinito de capítulos...

Porque o seu tema é de um número infinito de postulações...

Kafka não quis publicar muito em vida e pediu que destruíssem a sua obra…

A desobediência fez com que, felizmente para nós, a sua obra se conservasse…

Kafka é, para mim, o número um deste século…

Ele importava-se com a obra e não com a fama, isso é indubitável…

Seja como for…

Kafka, esse sonhador que não quis que os seus sonhos fossem conhecidos…

Agora é parte desse sonho universal que é a memória…

Provavelmente a sua vida irá ser esquecida…

Mas os seus contos continuarão a serem contados…

Já leu algo de Kafka? Não?

Então, sugerimos que o faça…”


(Inédito)

CARPE DIEM!

 

                                                              (Fotografia da internet)


“Hoje venho até vós com um poema crepuscular…

Como não sou poeta, nada sei sobre métrica e rimas….

Apenas gosto de escrever enquanto estou sozinho…

E sinto...

Mas porquê hoje um poema crepuscular?

Porque, para mim, é a única luz que resta…

Sim, a luz do crepúsculo, essa mistura dilacerante de beleza e tristeza….

Essa luz sem tempo em que de manhã já é noite…

É, pois assim, que eu me sinto: um ser crepuscular…

Com um ar de despedida em tudo o que faço…

Experienciando o tempo que passa cada vez mais depressa…

O ‘Tempus Fugit’ que quando damos conta já passou mais um ano…

E aqui estou eu, com quem luto permanentemente…

Mergulhado neste abismo que chamam realidade…

Que mais parece um espetáculo de circo…

Daí, o que me tem valido são muitas tristezas e sucessivos exílios…

Fiquem, pois, cientes, que estas minhas opiniões, todas as opiniões...

Não passam de opiniões…

Não são a verdade… Ninguém sabe o que é a verdade…

O meu passado está cheio de certezas absolutas que ruíram com os dias…

Por isso, corre em mim uma tristeza de morrer…

Não, não é medo o que sinto... É tristeza mesmo…

Que pena a vida ser só isto…

Pois… É hora de eu partir…

Mas não vou fazê-lo com mais palavras tristes…

Resta-me, quanto tempo?

Não sei…

O relógio da vida não tem ponteiros…

Então… Há que viver o momento…

Pois, a vida é breve e a beleza perecedora…

A morte? A única certeza!

Vou, então aproveitar o dia de hoje…

Pois, não confio no de amanhã…

Amigos leitores: Carpe Diem!”


(Inédito!)


TODOS SOMOS LOU SALOMÉ!

 

                                                                           (Fotografia da internet)


“Ah! Mas que mulher visionária e transgressora das convenções sociais…

Admirada por Nietzsche… Desejada por Rilke… Idolatrada por Freud…

Ou não fosse Mulher em pé de igualdade com homens brilhantes…

Bem te tentaram diminuir aos estereótipos...

E padrões alimentados pela cultura misógina…

Mas preferiste ser mulher transgressora, empoderada…

E, por isso, subestimada e incompreendida…

Sim, tu como muitas mulheres que foram deixadas à sombra dos homens…

Pena que a tua genialidade e o teu espírito indomável…

Não tenham sido suficientes para proteger-te das brumas do machismo…

Como dizias?

«Ousa, ousa… Ousa tudo!

Não tenhas necessidade de nada!

Não tentes adequar a tua vida a modelos…

Nem queiras ser um modelo para ninguém…

Acredita: a vida dar-te-á poucos presentes…

Se queres uma vida, aprende… A roubá-la!

Ousa, ousa tudo!

Sê na vida o que és, aconteça o que acontecer…

Não defendas nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:

- Algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!»

Brilhante, cara Salomé… Brilhante!

Como viveste a termo estas palavras…

Pois… Ainda hoje, no que diz respeito ao reconhecimento e emancipação da mulher…

Quanto à ausência de necessidade de estar constantemente conexa a um homem…

Não avançamos tanto assim!

Mulheres… Homens também, naturalmente…

Tenham como inspiração esta mulher de virtudes e defeitos multifacetados…

Deveras brilhante, porém humana como todos nós…

Que a sua determinação em combater os grilhões...

Que nos prendem às sombras da prepotência masculina...

Nos sirva como alento para seguir nessa mesma direção de independência…

Ainda que as trevas sejam escuras, não podemos deixar a nossa centelha apagar…

Mantenhamos, pois, sempre aceso o nosso fogo da vida…

Hoje, todos somos Lou Salomé!”


(Inédito)

DEUS NÃO EXISTE? TEREI DE INVENTÁ-LO, ENTÃO!

 

                                                                                                         (Fotografia de Luís Borges)

“Hoje, enquanto passeava pela Montanha, sem pensar em nada…

Percebi que na verdade não estava distraído…

Estava, apenas, sendo uma coisa muito rara: livre!

E, pouco a pouco. fui percebendo que estava percebendo alguma coisa…

E sentia-me satisfeito com o que via…

Tive, então, um sentimento de pura magia…

Eu senti que era a Terra, o mundo….

Mas, sem nenhuma prepotência ou glória…

Sem o menor senso de superioridade ou igualdade…

Questionei-me, naturalmente, se tudo isso era mesmo o que eu sentia…

E não apenas um equívoco de sentimento…

Mas, de facto, o sentimento era novo para mim…

E foi quando, de novo, me questionei:

Existirá Deus?

Ou Deus será apenas amar?

Bem… Talvez eu faça do amor uma ideia errada…

Sempre pensei que, somando as compreensões, eu amava…

Mas, parece, afinal, que é somando as incompreensões…

Que se ama verdadeiramente….

Pois… Sempre pensei que amar era fácil…

Eu nunca gostei do amor solene…

Sempre fui de lutar muito, meu modo de amar é lutando…

Talvez, no fundo eu quero amar o que eu gostaria de amar…

E não o que é…

É porque ainda não sou eu mesmo…

O meu prejuízo é amar um mundo que não é ele…

E também devo dizer:

Ofendo-me muito facilmente… Para dizer assim…

E sim também… É pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntimo do mundo…

Mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo…

E talvez eu tenha que chamar ‘mundo’ a este meu modo de ser um pouco de tudo…

Como posso amar a grandeza do mundo...

Se não posso amar o tamanho da minha natureza?

Pois… Enquanto eu imaginar que Deus não existe…

Não estarei a amar a nada…

Mas já que escolhi amar o meu contrário…

Ao meu contrário vou chamar ‘Deus’…

Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero…

Serei um dado marcado e o jogo da minha vida ‘maior’ não acontecerá…

Ah! Enquanto eu não inventar Deus, Ele não existe…”


(Inédito)

A MORTE É UM DIA QUE VALE A PENA VIVER...

 

                                                       (Fotografia da internet)

“Preciso urgentemente de ver a vida de outra forma…

Inclusive, de seguir outro caminho…

Pois, a vida é breve e precisa de sentidos e significados...

Será a morte um possível caminho para encontrar um novo olhar para a vida?

Sei que a maioria de vós não gosta deste assunto…

Mas sabem… Vamos todos morrer um dia…

E quanto mais nos prepararmos para a ideia, melhor partiremos…

E depois…

Quando morremos, não levamos connosco a história da nossa vida…

E para os que cá ficam…

A vida será ainda mais conhecida a partir da perda da pessoa amada…

E o luto será um processo de profunda transformação…

Cuja tarefa mais sensível será restabelecer a conexão com a pessoa que morreu…

Através das experiências compartilhadas com ela…

Mas quem já passou por esse desalento… Perder alguém mais querido…

Percebe como é mágico como a dor passa quando aceitamos a sua presença…

Quando reconhecemos esse sofrimento, ele quase sempre se encolhe…

Quando negamos, ela se apodera da nossa vida inteira…

Ah! Que belo dia para se morrer…”


(Inédito)

10 setembro 2022

OUTONO DA VIDA...

                                                                                                         (Fotografia de Luís Borges)


“E, de novo… Já estamos no final de mais um verão…

Vem aí mais um outono e não é sem emoção que o vejo entrar…

Tal como com a terra, há em minha alma um adormecimento…

As ambições desfalecem de novo…

Apenas permanecem os sonhos…

E as memórias das minhas primeiras emoções poéticas…

São boas essas recordações... Têm um perfume de saudade…

E fazem com eu sinta a eternidade do tempo…

Ah! O tempo!

O inflexível tempo, que como a morte vai morrendo em nós…

Ceifando as nossas aspirações, tirando presunções, trazendo desalentos…

E só nos deixa na alma essa saudade do passado, às vezes composta de coisas fúteis…

Cujo relembrar, traz-nos por vezes algum pesar…

E assim… Satisfações, glórias, tudo se esvai e se esbate…

Tenazmente, porém, ficamos a viver... Esperando…

Esperando… O quê?

O imprevisto, o que pode acontecer amanhã ou depois…

Esperando os milagres do tempo e olhando o céu vazio de Deus…

E agora… O outono que volta…

Até as cores ficam mais ténues…

Emparelhadas eternamente à marcha da Terra…

É o momento de aparar os galhos da nossa alma…

Para, de novo, perdermos as folhas, antes mesmo de chegar o inverno…

E assim se faz a vida, com desalentos e esperanças…

Com recordações e saudades, com tolices e coisas sensatas…

À espera da morte, da doce morte...

Padroeira dos aflitos e desesperados…”


(Inédito)

TENHO MEDO DE MORRER...

                                                             (Fotografia da internet)

 

“Morrer num hospital é talvez hoje a imagem popular mais terrífica…

Mais do que qualquer retórica macabra que lemos no passado…

Eu cá, tenho muito medo de morrer no contexto do mundo em que vivemos…

Morrer acompanhado de humilhações, (des)assistido por seres incompetentes de alma…

E, ainda por cima, morrer contra a minha vontade…

Sem que eu possa fazer nada…

Mas o pior… Ah! O pior é a solidão…

Nem sequer uma palavra para falar sobre a minha morte…

Muitos dos tão propalados ‘recursos’ científicos...

Que hoje temos para manter vivo um paciente…

São uma violência ao princípio do respeito pela vida…

Os médicos deveriam era dar ouvidos ao pedido que a vida está fazendo:

Liberta-me!

Mas isto da morte tem muito que se lhe diga…

E depois…

Começamos a morrer no exato instante em que começamos a viver…

Cada dia que passa, morremos um pouco mais…

E hoje estamos mais mortos do que estávamos ontem…

Nesta era em que vivemos, vivemos a morte como uma experiência marginal…

Ela acontece, de preferência, oculta dentro de um qualquer hospital...

E, quando perdemos alguém, a dor que nos consome…

Deve ser superada rapidamente, de forma asséptica como mais um ato médico…

Se, possível, sem muito barulho e sem perturbar os amigos…

Pela lei, se perdemos um parente direto...

Temos direito a ausentar-nos cinco dias do trabalho…

Como se chegou à conclusão de que cinco dias de luto é suficiente?

Porque três é pouco e seis é muito?

Será o primeiro dia para enterrar o morto, o segundo para limpar os armários …

E os restantes três para chorar?

E depois... A vida continua?

Perdoem-me, mas hoje morrer é quase uma obscenidade…

E uma coisa feia que deve ser escondida…

Tornou-se deselegante sofrer em público por algo tão de mau gosto como a morte…

Se sofremos além do período considerado socialmente aceitável…

Tornamo-nos um caso patológico…

O que precisamos não é um ombro humano, mas antidepressivos…

A morte só se torna um tema de conversa, quando se transforma na ‘lição final’…

Ah! Morrer hoje é um fracasso…

Pois há que transformar o fim das nossas vidas num caso de sucesso…

Poderemos não vencer a morte, mas, naquilo que é essencial para cada um de nós…

Aí temos de vencer!

Morrer é lidar com dois factos intrínsecos à vida humana:

- A impotência e a falta de controle…

Talvez por isso, a morte se tenha tornado hoje motivo de vergonha…

Ela lembra-nos do que gostaríamos de esquecer…

Pois, nesta era de exteriorização, o que mais se vende é a ilusão…

Até comprimidos se vendem para controlar os sentimentos…

Perpetua-se a juventude à força de bisturis e cosméticos…

E, pelo menos a morte, lembra-nos que algo está errado nesta equação…

Podemos transformar o corpo, mas não evitamos que ele morra…

Podemos escolher roupas e carros de marca, mas não decidimos deixar de morrer…

Até podemos fazer as nossas próprias regras…

Mas entre elas não estará, de certeza, viver para sempre…

É que a morte confronta-nos com a questão fundamental dos nossos limites…

E isso, pelo menos a mim, assusta-me…

E também por isso tenho medo de morrer…”


(Inédito)

09 setembro 2022

MEMÓRIA SUBMERSA...


 


“Vagueio pela lama como um rio sem leito…

Como se carregasse na carne reflexos do que vejo nas margens…

Estruturas de casas quebradas, ruínas de um lugar que submergiu no tempo…

Não, estas ruínas não excitam arqueólogos...

São escombros de muitas gerações, não da erosão do tempo…

São de eras passadas que ainda moram na memória dos vivos…

Esta civilização, apesar de naufragada, não se perdeu…

Hoje, ainda que momentaneamente, ressurge como lama entre as pedras…

Tudo parece estático… O silêncio impera…

Mas o murmúrio das pedras não cala…

Soando em direção a restaurações futuras…

Ainda que submersa na memória…

As mentes resolutas reconstruirão, aos poucos…

O que foi destruído à pressa…”


(Inédito)

AMAR CORAJOSAMENTE...

                                                                      (Fotografia da internet)

“Afirmaram Marx e Engels que «tudo o que é sólido se desmancha no ar…

E que tudo o que é sagrado é profanado»…

Pois, a modernidade em que vivemos também parece ser assim…

E a sua essência alastra-se pela vida do homem moderno…

Transformando-o não só como indivíduo, mas também como ser relacional…

Assistimos, de facto, cada vez mais a uma dificuldade de amar o próximo…

Será que é nessa dificuldade que reside a raiz de tantos dos nossos problemas?

Na verdade, vivemos hoje numa sociedade fortemente marcada pelo conflito…

Em que o Homem não consegue distinguir o ser do ter…

O Homem passou a expressar-se pelas suas posses…

Quais elementos definidores da sua própria identidade…

 Refugiou-se na conformidade que ceifa a pluralidade de existências…

Segregando o que é diferente, o que lhe é estranho…

Se levarmos em conta que amar outra pessoa não é amar o que projetamos nela…

E sim a sua humanidade e singularidades…

Não será difícil compreender, então...

Que o amor é um desafio nos tempos de modernidade líquida baumiana…

A busca pela felicidade individual transformou-nos em tribunais individuais…

E, na disputa pela sentença a ser proferida…

O que se vê é sair vencedor aquele que se recusa a ouvir o outro…

Facilmente, pois, livramo-nos dos compromissos…

E de tudo aquilo que nos tire da nossa zona de conforto…

Ainda que tão agarrados a nós mesmos, paradoxalmente…

É bastante comum que a solidão seja companhia (e problema)…

Constante de quem vive a descartar…

Os muros que construímos ao nosso redor, físicos ou emocionais…

Têm mesmo esse condão de isolar e criar dois mundos em cada um dos seus dois lados:

- O de dentro e o de fora…

Amar (de verdade) é, pois, hoje um ato revolucionário…

E só ama quem tem a suficiente coragem para lidar com esse desafio…

Porque sabe que, por mais que nem tudo sejam flores…

Esse amor ‘sólido’ é que nos impulsiona a querermos ser melhores…

Seja como pessoa ou sociedade…

Assim, aos mais corajosos, deixamos o desafio:

Amem profunda e verdadeiramente…

Mesmo aqueles que não conhecem…”


(Inédito)

08 setembro 2022

ADEUS... ADEUS...

 

                                                                                                                        ('Post' da internet)


“Quanta tristeza há nesta vida…

Para quem ama sem seu amor…

Só incerteza, só saudade...

Amar assim é triste…

O que é que fica?

O amor?

Ah! Quanta dor…

Amar sozinho…

Só lhe resta…

Dizer adeus…

Adeus... Adeus...”


(Inédito)