“O
mundo não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui forma…
E sem
o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem…
Mas,
é assustador perceber que hoje vivemos segundo o nosso exclusivo ponto de vista…
Sim,
entendemos... É uma questão de sobrevivência…
Ou,
será de naufrágio?
E
tudo isto começa para todos nós logo na infância…
Com tantas
carências nem sempre explicáveis…
Sempre
expostos a fatalidades e imprevistos contra os quais nada nos defende…
E
assim vamos crescendo, criando barreiras…
E,
ao mesmo tempo, lançando pontes com o que nos rodeia…
Mas,
de uma coisa temos de estar conscientes:
- Não
somos apenas levados à revelia pela corrente…
Somos
participantes!
E,
por isso, em vez de atores ativos de uma tragédia…
Temos
de ser audazes para mudarmos para melhor…
Pois,
só assim poderemos erguer as paredes da maturidade…
E
culminar o telhado da velhice…
Ainda
que sendo esta deterioração…
E
assim, vamos construindo uma figura:
- Quem
queremos ser… Quem pensamos que devemos ser…
Constituir
um ser humano é, pois, trabalho constante que não concede descanso…
Haverá
paredes frágeis, cálculos mal feitos, fendas até…
Quem sabe um pedaço de nós irá até ruir…
Mas também
se abrirão janelas para a paisagem e varandas para o sol…
E,
no final, o que se produzir, casa habitável ou ruína estéril…
Será
a soma do que pensaram e pensamos de nós…
Do
quanto amámos e nos amaram… E nos amamos…
Do
que nos fizeram pensar que valemos…
E do
que fizemos para confirmar ou mudar tudo isso…
Mas,
não se pense que é tão simples assim…
Nesta argamassa misturam-se boa-vontade e
equívocos, sedução e celebração…
Afinal,
uma dança de máscaras sobrepostas…
Atrás
das quais somos o objeto da nossa própria inquietação…
E é esta
ambiguidade que nos dilacera e alimenta...
Mas nos
faz, afinal, mais humanos…”
(Inédito)
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