A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

10 setembro 2022

OUTONO DA VIDA...

                                                                                                         (Fotografia de Luís Borges)


“E, de novo… Já estamos no final de mais um verão…

Vem aí mais um outono e não é sem emoção que o vejo entrar…

Tal como com a terra, há em minha alma um adormecimento…

As ambições desfalecem de novo…

Apenas permanecem os sonhos…

E as memórias das minhas primeiras emoções poéticas…

São boas essas recordações... Têm um perfume de saudade…

E fazem com eu sinta a eternidade do tempo…

Ah! O tempo!

O inflexível tempo, que como a morte vai morrendo em nós…

Ceifando as nossas aspirações, tirando presunções, trazendo desalentos…

E só nos deixa na alma essa saudade do passado, às vezes composta de coisas fúteis…

Cujo relembrar, traz-nos por vezes algum pesar…

E assim… Satisfações, glórias, tudo se esvai e se esbate…

Tenazmente, porém, ficamos a viver... Esperando…

Esperando… O quê?

O imprevisto, o que pode acontecer amanhã ou depois…

Esperando os milagres do tempo e olhando o céu vazio de Deus…

E agora… O outono que volta…

Até as cores ficam mais ténues…

Emparelhadas eternamente à marcha da Terra…

É o momento de aparar os galhos da nossa alma…

Para, de novo, perdermos as folhas, antes mesmo de chegar o inverno…

E assim se faz a vida, com desalentos e esperanças…

Com recordações e saudades, com tolices e coisas sensatas…

À espera da morte, da doce morte...

Padroeira dos aflitos e desesperados…”


(Inédito)

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