“As
palavras gastam-se como pedras de rio…
Mudam
de forma e significado, de lugar…
Algumas
desaparecem, vão ser lama de leito das águas…
Podem
até reaparecer renovadas mais adiante…
Mas,
infelizmente, face aos tempos de vulgarização que vivemos…
As palavras
também se banalizaram…
Hoje
vivemos na era do ‘fast food’, do ‘prêt-à-porter’…
É só
meter no micro-ondas, fácil e rápido…
Ainda
assim, eu apaixonei-me pelas palavras…
Não
sei se por encantamento, se por mais uma ilusão…
Sei
o quanto algumas se contaminam pelo uso…
E se
tornam agressivas ou contraditórias…
Têm
ares de ironia ou de ingenuidade….
Muitas
até se tornam confusas e ineficientes…
E
prestam-se a mal-entendidos ou clareiam mais o significado…
Conheço
um pouco o modo como se apoderam das nossas experiências…
E
lhes dão rostos, roupas, ares que nem tínhamos imaginado…
Ah!
E adoro as palavras desconcertantes!
Os
seus contornos imprecisos permitem que exerçamos o direito de refletir…
E de
criar em cima delas….
Mas,
algumas palavras e circunstâncias inquietam-me…
Pois,
muitas revestem as transformações do nosso tempo…
Mudança
de padrões de comportamento, progresso e avanço…
Mas
também sombra e estéril angústia, qual desperdício…
E como
sou um sonhador…
Refugio-me
naquelas que têm a ver com ideais que só raramente atingimos…”
(In "Crónicas Mundanas...")