A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

16 setembro 2022

A ARTE DE ENSINAR... ATRAVÉS DA FOME...


E PORQUE (TAMBÉM) SOMOS PROFESSORES... 

UMA OUTRA REFLEXÃO SOBRE O REGRESSO ÀS AULAS...


                                                                                                         (Fotografia da internet)

“Para quem gosta de aprender pedagogia…

A cozinha é uma boa sala de aula…

Pois, para se cozinhar um bom prato…

Mais do que qualquer bom ingrediente, ou técnica…

O que é preciso é criar fome…

Sim, leram bem, ‘ criar fome’!

É que o comer não começa com a comida…

O comer começa com a vontade de comer…

Em primeira instância, come-se, porque se tem fome…

Se não temos fome é inútil ter comida…

Mas se temos fome e não temos comida…

Sempre arranjamos forma de arranjar comida…

Seria bom, pois, que antes de entrarem numa escola…

Alunos e professores passassem por uma cozinha…

É que os cozinheiros podem dar boas lições aos professores…

O verdadeiro cozinheiro é aquele que sabe a arte de produzir fome…

E depois… Sem fome, o corpo recusa-se a comer…

Mas, atenção… Isto é básico na pedagogia:

- Toda a experiência de aprendizagem deve iniciar-se com uma experiência afetiva…

É a fome que põe em funcionamento o ‘aparelho pensador’…

E fome é afeto!

O pensamento nasce do afeto… Nasce da fome…

Mas note-se: não confundir afeto com beijinhos e carinhos…

Afeto, do latim ‘affetare’, quer dizer ‘ir atrás’...

É o movimento da alma na busca do objeto da sua fome…

A fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado…

Os sentidos provocam-nos o desejo...

É assim que ficamos, também, com fome…

E provocado pelo desejo, a nossa máquina de pensar põe-se a funcionar…

Registem isto, por favor:

- O pensamento é a ponte que o corpo constrói a fim de chegar ao objeto do seu desejo!

Se não tivermos desejo, a nossa máquina de pensar fica parada…

E, também, se alguém nos der de comer…

De igual modo, a nossa máquina de pensar não funciona…

O nosso desejo, neste caso, realizar-se-á através de um atalho…

E sem que tenhamos necessidade de pensar…

Então, registe de novo, por favor:

- Se o desejo for satisfeito, a máquina de pensar não pensa!

Assim, realizando-se o desejo, o pensamento não acontece…

A maneira mais fácil de abortar o pensamento é realizando o desejo…

Esse é o pecado de muitos pais e professores…

Que ensinam as respostas antes que as crianças façam perguntas…

E se não encontrarmos, de imediato, solução…

E se o desejo continuar…

A nossa máquina de pensar tratará de encontrar mesmo a solução…

Todos os meios técnicos são extensões do corpo:

- As bicicletas são extensões das pernas…

- Os óculos são extensões dos olhos…

- Os talheres são extensões das mãos…

Então, algo que deve registar, também, por favor:

- Os conhecimentos são extensões do corpo para a realização do desejo!

E já agora, registe mais isto, por favor:

 - Os conhecimentos que não são nascidos do desejo…

São como uma maravilhosa cozinha na casa de um homem que sofre de anorexia!

Um homem sem fome jamais acenderá o fogão…

E não haverá comida para ninguém naquela casa!

A tarefa do professor é, pois, a mesma do cozinheiro:

- Antes de dar a faca e o queijo ao aluno, devemos provocar a fome…

Se ele tiver fome, mesmo que não haja queijo…

Ele acabará por fazer uma máquina que o ajudará a pensar para arranjar comida…”


(Inédito)

MANIFESTO DE DESPEDIDA... COM AMOR...

 

                                                                                                                      ('Post' da internet)

“Confesso que em todas os relacionamentos na minha vida…

Dei sempre o meu melhor para o outro…

E mesmo assim, essas pessoas com quem me relacionei, escolheram não ficar…

Mas, nada disso diminuiu o meu valor... Nada!

Porque o meu valor não é medido pelas escolhas que fiz…

Mas sim, pelas minhas atitudes…

Foram muitos os motivos que levaram a que não permanecessem…

E embora eu não seja perfeito… Nem ninguém…

Se as relações não se perpetuaram, não foi porque eu falhei… Ou o outro…

Mas sim, porque ninguém controla as ações um do outro...

Sim, é um facto, durante a minha vida vi algumas pessoas irem embora…

Mas elas não me abandonaram… Apenas seguiram o seu caminho…

É que a vida é cheia de encontros, despedidas, reencontros…

Mas, também sei que, de alguma forma, as conexões fortes, as reais…

Vão sempre permanecer de algum jeito…

Mas querem saber…

O mais importante não é quem saiu ou ficou na minha vida…

O mais importante, para mim, é que eu jamais me abandonei a mim mesmo!

Qualquer pessoa pode me abandonar… Menos eu…

Só se abandona a si mesmo quem se menospreza…

Quem desiste de si mesmo e do seu crescimento…

E, principalmente, quando desiste da vida… E do amor…

Fazer isso… Só porque alguém não escolheu ficar?

Esse tipo de abandono é o pior que existe!

Todos nós conseguimos viver sem o outro…

Mas jamais alguém vive sem as suas próprias forças…

A sua própria autoestima… E vontade…

Pois… Se me permitem…

Deixaria a ‘experiência’… De quem já deixou ir outras pessoas…

Não importa o quanto doa despedir-se de alguém…

Fique sempre do seu próprio lado!

Não se abandonar é o ato mais poderoso para curar o coração… E a vida…”


(Inédito)

TRISTEZA... NÃO TEM FIM...

 

                                                                                 (Fotografia da internet)

“Hoje foi mais um dia em que acordei triste…

Mesmo sabendo que o sol brilhava lá fora…

Convidando-me para a festa de viver…

Ainda assim, acordei triste e tive preguiça para me levantar…

Não encontrei energia, nem sequer para sentir culpa pela minha letargia…

E venha quem vier para me animar…

Será só mais um que não tolera a tristeza…

Nem a minha, nem a dele, nem a de ninguém…

Ah! Já não podemos estar tristes hoje em dia…

A tristeza já nem é considerada uma anomalia do humor…

Agora até parece uma doença contagiosa…

Que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma…

Mas, a verdade é que eu não acordei assim tão triste…

Seria apenas uma suave melancolia… Está tudo bem!

Mas quando fico triste… Também está tudo bem…

Para mim, ficar triste é um sentimento tão legítimo quanto a alegria…

É um ar da nossa sensibilidade, que tanto busca o riso, como a solidão…

Mas, note-se, estar triste não é estar deprimido… Não confundamos…

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa…

Estar triste é estar atento a si próprio…

Sim, podemos estar desapontados com alguém ou connosco mesmos…

Ou, simplesmente, sentirmo-nos frágeis, sem uma qualquer razão aparente…

Pois, parece que é melhor forçar um sorriso…

Dizer que está tudo bem…

Todos afastam a tristeza, mas poucos a enfrentam de facto…

Por isso, preferem antes não compreendê-la…

 Optam por disfarçá-la, sufocá-la…

Ela que, humildemente, só quer usufruir do seu direito de existir…

Claro que é melhor ser alegre que ser triste…

Mas fará sentido privar alguém de sentir o que seja?

E depois… Há dias assim…

Tem dias que não estamos nem aí…

Que nos deixem, pois, no nosso canto… ‘Tristando’…

Que a quietude é, também, armazenamento de força e sabedoria…

Para enfrentar outro dia…”


(Inédito)

O AMOR É O ESPAÇO-TEMPO DO CORAÇÃO...

                                                                                                                  (Fotografia da internet)

Amar é um ato de vacuidade…

Pois vai além da forma…

E é fora do espaço… E do tempo…

Quando amamos, vamos além das fronteiras de nós mesmos…

Entendemos que o amor…

Não depende de nada…

E esse sentimento preenche…

Tudo o que foi criado…

Amamos…

Até nos tornarmos e fazermos parte…

Do que amamos…

E esta foi a única promessa…

Que fizemos a nós mesmos…

Antes de termos decidido vir amar, de novo, a vida…”


(In "Amar... O amor...")

15 setembro 2022

EU SEI QUE SENTES FALTA DE MIM... E TAMBÉM SEI QUE SABES... QUE EU SINTO MUITA FALTA DE TI...

 

                                                                                 ('Post' da internet)

"Eu sei que a nossa ausência é dura…

Que desde que nos separámos, os nossos dias não são mais como antes…

Sei que tens tido dificuldade em conciliar o sono, tal como eu…

Sei o quanto sentes a minha falta, tanto quanto eu sinto a tua…

 O quanto desejas que eu volte… Volta para mim!

Eu sei que choras… Pois, eu choro contigo...

Não é fácil viver assim triste, pois, as nossas memórias estão em todo lugar…

Por isso, sinto as tuas lágrimas, e acaricio a tua dor e os teus medos...

E sei que fazes o mesmo por mim…

Não chores mais meu amor... Não, eu não choro!

É normal, faz parte do nosso luto...

Quantas vezes falámos:

- Temos que aceitar o que nos acontece…

E depois… Parece que já estava escrito…

Não é injusto… Os tempos de Deus são perfeitos…

Vivemos e fomos felizes, amámos e fomos amados...

Ah! Se soubesses como é lindo este lugar de onde agora te escrevo…

A paz e amor que existe em mim...

Um dia iremos compartilhar tudo isto… Mas não tenhas pressa…

Será no seu tempo, a seu tempo….

Por ora, vive, desfruta a tua vida…

E enche o teu coração com os melhores momentos que vivemos juntos...

A nossa ausência está em todos os momentos...

Se voltares a sorrir, eu vou sorrir contigo…

Em cada alegria, em cada tristeza que experienciámos juntos…

Nunca vamos ficar sozinhos...

Eu te amo e sei o quanto tu me amas…

O amor mora nos nossos corações... Nunca te esqueças disso…

Não chores mais meu amor que a vida é linda…

Eu estou secando as minhas lágrimas, também…

E jamais te esqueças que a nossa força é a luz que alimenta as nossas almas…

Pois, tu és a pura essência de mim… E eu sou tu…

Sorríamos, então, nas nossas memórias... E sejamos felizes…”


(Inédito)

NÓS SOMOS O NOSSO PRÓPRIO DESTINO!

 

                                                                                                          ('Post' da internet)

“Temos o hábito de culpar-nos…

Às vezes até por nada…

Outras vezes culpamos os outros…

Esquecendo-nos que somos os exclusivos responsáveis…

Por grande parte do que acontece na nossa vida…

Maturidade é, também, responsabilização…

Responsabilizemo-nos, então, pela nossa própria construção…

Simples, basta permanentemente nos corrigirmos…

As circunstâncias…

São boas ou más segundo a determinação do nosso coração…

Por isso, aceitação é, também, uma das palavras-chave…

Começando por aceitar que muito dependerá de nós…

Não culpemos, pois, a ninguém por isso…

Ou aceitamos agora, ou seguiremos nos justificando sem fim…

Não! Não nos enganemos mais…

Nós somos a principal causa de nós mesmos!

Das nossas necessidades, das nossas dores, dos nossos fracassos…

Ou não fosse a causa do nosso presente, o nosso passado…

Como a causa do nosso futuro será o nosso presente…

Sejamos, então, mais fortes, mais audazes…

Não é esse o timbre dos vencedores?

Ah! Saibamos renascer desde a dor… E dos fracassos…

Deixando de ser marionete das circunstâncias…

Pois, nós somos o nosso próprio destino!”


(Inédito)

O SILÊNCIO...

 

                                                                                                                      ('Post' da internet)

“O silêncio enquanto experiência e lugar de encontro…

É algo de revolucionário… E nunca reacionário…

É preciso silenciar para ouvir… Para viver…

Diz um famoso ditado árabe:

- «Não abras a boca se o que tens a dizer não for mais belo que o silêncio»…

Ou como dizia, também, São Bento na sua ‘Regra’ aos monges:

- «Sobre assuntos bons, santos e edificantes, tão importante é o silêncio»…

Talvez, por isso…

Os homens de Deus vivenciaram, também eles, largos momentos de fecundo silêncio…

 De Moisés a Oseias ou Elias, todos fizeram a experiência do silêncio…

O próprio Jesus Cristo foi um primoroso exemplo de quem soube viver o silêncio…

O silêncio está vinculado à proximidade do mistério e da intimidade com Deus…

É que as coisas mais íntimas são sempre pronunciadas aos murmúrios…

Só depois de um grande silêncio, se abre o caminho da oração…

Santo Agostinho dizia que a oração é puro silêncio…

Não é um estar em si somente, embora necessite de um momento introspetivo…

Pois, esse portal pessoal poderá abrir-nos aos outros e à natureza…

O silêncio é, pois, um estado de espírito bem como uma profunda atividade de amor…

Foi chamado pelos místicos como o ascetismo do silêncio…

Exige conversão e misericórdia…

Pois, o silêncio interior favorece a comunicação e a sua identidade veraz…

Vencidos os obstáculos podemos penetrar num estado agudo de felicidade…

Cultivemos, então, o silêncio…

E cuidemos dele nas nossas celebrações e na nossa vida quotidiana…

Porque, o silêncio, não é que tenha valor em si mesmo…

Mas permite uma abertura para a plenitude que se esconde por detrás das palavras…

Dizia Clarisse Lispector:

- «Há um silêncio dentro de mim…

E esse silêncio tem sido a fonte das minhas palavras»…

Até o povo diz quando está diante de uma grande felicidade…

Ou diante de uma grande perda ou fraqueza:

- «Não tenho palavras para explicar ou dizer»…

O não dito é muito mais poderoso que a palavra…

Assim quando precisamos de estar com alguém que tem uma grande dor…

As palavras como que se desvanecem e se atrofiam…

O melhor é calar para compreender…

O silêncio, nestes momentos…

Exprime melhor a adoração, o abandono…

E o fascinante que cada ser humano busca ardentemente…

De novo… Cultivemos o majestoso silêncio…

Para que possamos escutar o vento… O mar atingindo a praia…

Os pássaros cantando afetuosas melodias… As crianças balbuciando…

Os pobres pedindo amor… Os doentes sofrendo…

Os amigos celebrando… As florestas crescendo…

E, sobretudo…

Sermos capazes de auscultar a voz interior proclamando…

Que o amor de Deus existe em nós, suave e inefável…

Ah! Como amo o silêncio…

E, por isso calo-me agora…

Deixo… Em silêncio…

Este belo poema do poeta e filósofo, Rabindranath Tagore…

Nele, o caro leitor pode ler (escutar) o silêncio que preenche o nosso coração:

 

«Se não falas…

Se não falas, vou encher o meu coração…

Com o teu silêncio, e aguentá-lo…

Ficarei quieto, esperando, como a noite…

Em sua vigília estrelada, com a cabeça pacientemente inclinada…

 

A manhã certamente virá...

A escuridão se dissipará, e a tua voz…

Se derramará em torrentes douradas por todo o céu…

 

Então, as tuas palavras voarão…

Em canções de cada ninho dos meus pássaros…

E as tuas melodias brotarão…

Em flores por todos os recantos da minha floresta…»

 

(Rabindranath Tagore; Gitanjali, Paulus, 1991, p. 19)


(Inédito)

14 setembro 2022

PAIXÃO...

 

                                                                                  ('Post' da internet - Quadro de Mondigliani)

“Podemos entender pureza como aquilo em que não há misturas…

Ou seja, só uma coisa…

Talvez por isso…

Kierkegaard dizia que a pureza de coração é desejar uma só coisa…

A ser assim…

A paixão é pura porque vive de uma coisa só: da pessoa amada!

O apaixonado só pensa na pessoa amada… Sempre!

Sim, podemos dar-lhe outras definições…

Por exemplo, Saint-Exupéry, chamou-lhe ‘cativar’…

Ah! Como é bom estar apaixonado…

Ainda que a paixão seja uma experiência estética…

A pessoa pela qual estamos apaixonados é sempre bela…

Não é que ela seja bela em si mesmo…

É o nosso olhar apaixonado que a torna assim…

Porque não vemos o que vemos, vemos o que somos…

A nossa amada é bela quando nos vemos belos ao seu olhar…

E aí… Ah! Aí surge o amor…

Pois, o amor começa quando colocamos uma metáfora poética...

No rosto da pessoa amada...

E que grande amor que é...

Quando contemplamos ternamente a pessoa amada…”


(Inédito)

INCESSANTEMENTE PROCURAR...

 

                                                                                                                          ('Post' da internet)

“Às vezes tenho a sensação de que continuo a procurar às cegas...

E nem sei bem o quê…

Mas, sinto-me obrigado a continuar…

Sinto até um certo ímpeto para fazê-lo…

O meu temor é que eu talvez possa encontrar o que não quero…

Eu tenho coragem, mas o preço é muito alto…

E estou cansado...

Sinto que tenho que ir para um lado ou para outro…

Ou, simplesmente, parar…

Mas não desistir…

Levar apenas uma vida mais humilde de espírito…

Ah! Estou viciado em viver nesta extrema ambiguidade…

Por isso, escrever para mim…

É o reflexo desta situação exclusivamente minha…

E é… Quando me sinto mais desamparado…”


(Inédito)

SER CRIANÇA...


                                                                            (Fotografia da internet)

“Quantas vezes ouvimos dizer que criança não pensa…

Não! Criança pensa sim!

Mas, mais do que pensar… Ou não…

A criança faz também algo mais importante: ela é!

Quando uma criança olha uma flor no jardim…

Ela não está apenas a olhar…

Ela está a ser tudo isso em que se concentra…

Ela é a flor, o pássaro, o vento, o silêncio…

Precisa, pois, que às vezes apenas a deixemos em paz…

 É que a criança imersa no seu ambiente participa de um processo maior do que ela...

E é assim que desabrocha a sua consciência…

Porém, ela tem algo mais valioso do que consciência:

- Tem a intuição de tudo, tem o saber inocente…

Inocência que é perdida na medida em que ela for domesticada…

E, por isso, a muitas só lhes resta preservar a capacidade de sonhar…

Ou não fosse a utopia o terreno da sua liberdade…

Ser criança é, pois, ser a sua própria dimensão…

Na qual o tempo, os aromas e as texturas, as presenças e emoções…

São a sua realidade peculiar…

Por isso, dói hoje olhar em redor e não ver mais crianças…

Vemos apenas, trágicos personagens frutos de famílias desestruturadas…

Onde impera o desamor, a hipocrisia, o isolamento…

Muitas vezes inibidas pela impossibilidade de manifestar afetos…

Ah! Tanta precariedade de laços amorosos…

Tão pouco espaço para diálogo, ternura… E tempo…

Porque não fazer da casa o ninho e não a jaula?

É que a infância é o chão sobre o qual toda a criança caminhará o resto dos seus dias…

Essa batalha que será a de toda a existência…

Se insisto na importância da responsabilidade à família primeira – aos pais…

É porque o amor primeiro, aquele entre pais e filhos…

Vai determinar a expetativa daquele Ser de todos os seus amores do porvir…

Sim, todo o amor tem ou é crise…

Todo o amor exige paciência, bom humor...

Tolerância e firmeza em doses sempre incertas…

Não há receitas nem escola para se ensinar a amar…

As lutas, porém, podem ser positivas… A competição também faz crescer…

Amar é impor e aceitar limites…

Sim, ser pais é ser gravemente responsável…

Não apenas por comida, escola, saúde, mas pela personalidade dos filhos…

Mas será sobre nós, a nossa esperança ou pessimismo, o nosso afeto ou frieza…

Que os filhos darão os primeiros de seus muitos passos…

E farão isso com os seus filhos futuramente…

Serão tão fundamentais para eles...

Quanto os pais dos nossos pais foram na geração anterior…

Atrás e à frente de cada casal humano…

Estende-se uma longa cadeia de erros e acertos geradores de humanidade…

Somos, pois, em parte resultado do que foram os nossos pais...

Então, porque insistimos em criar almas subalternas se podemos criar almas livres?”


(Inédito)

13 setembro 2022

SEXO... OU AMOR?

 

                                                                                                                    (Fotografia da internet)

“Quem ao olhar para a sua amada, pensar apenas em sexo não ama essa mulher…

O apaixonado sorri ao contemplar a amada dormindo, sem tocá-la…

O corpo deitado, o rosto sobre o travesseiro, os olhos fechados…

A camisola suspensa deixando ver a cuequinha…

É uma imagem de paz, de tranquilidade….

E não de agitação sexual…

Existe apenas o desejo de acariciá-la, mas a mão se contém…

Com a amada, os impulsos sexuais estão adormecidos…

Ah! Já o sexo é outra coisa completamente diferente…

Mas se querem saber mais sobre sexo, leiam Freud…

Pois, ele sabia muito sobre isso…

O sexo que eu vos falo, tem mais haver com ternura…

Muito para além do prazer, dá-nos alegria…

E não usamos a amada como objeto para o nosso alívio…

Mas tal só acontece quando temos a experiência da paixão….

O que a maioria dos homens conhece é apenas o prazer do sexo…

Esgotada a orgia, o seu desejo é livrar-se da mulher…

Qual animal caçador que abandona a caça tão logo a sua fome é saciada…

Ao invés, quando amamos, ficamos com aquela dúvida divina:

- O que amo quando faço amor?

Parece que existe no cérebro uma zona específica…

Que poderíamos chamar de memória poética…

Que regista o que nos encantou e que dá beleza àquele momento…

E por mais efémero que seja o registo que fica gravado naquela zona do nosso cérebro…

Jamais outra mulher o apagará…

Agora, nessa memória poética, aqueles momentos de amor fora do tempo…

Passam a fazer parte da nossa alma… Não morrem mais!

Ah! O que amo quando faço amor?

Para além do amor pela nossa amada, tem de haver mais qualquer coisa…

Que em vez de caçador, nos faça olhar para a nossa amada como objeto de amor…

Amamos o belo momento de fazer amor, antes de amar a pessoa…

Amamos a pessoa porque ela completa o belo momento…

Entendo agora porque Santo Agostinho escreveu nas suas ‘Confissões’:

«Antes que te conhecesse eu já te amava»…

Somos amantes antes de nos encontrarmos com a nossa amada...

Que será o objeto do nosso amor…

A alma é uma coleção de belos quadros adormecidos…

Com rostos envoltos pelas sombras…

A sua beleza é triste e nostálgica…

É que sendo moradores da alma ao lado dos sonhos…

Eles não existem do lado de fora…

Mas, por vezes, defrontamo-nos com um rosto…

Ou apenas uma voz, um olhar, um gesto com a mão…

Que, sem razões, ilumina um dos quadros que estava no escuro…

Somos, então, possuídos pela certeza de que esse rosto que os olhos veem…

É o mesmo que está no quadro que mora nas sombras da alma…

Então… Ah! O nosso corpo estremece…

E o amor floresce…”


(Inédito)

VOU VOLTAR... PARA MIM...

 

                                                                                                                          ('Post' da internet)

"Quando caminhamos pela vida…

Precisamos deixar para trás algumas bagagens…

Se queremos conseguir seguir em frente…

As feridas só irão fechar-se se pararmos de tirar a casquinha…

Sim, por vezes, a saudade dilacera-nos…

Mas… O importante agora somos nós!

Temos, pois, de nos focar nos passos que precisamos dar rumo à felicidade…

É que, por vezes, adicionamo-nos tanto à vida do outro...

Que esquecemos de viver a nossa…

E os dias passam e não voltam atrás…

Pois é…. Esse tempo jamais poderá ser recuperado…

Agora é, então, tempo de investir em nós…

De nos darmos a oportunidade de nos reencontrarmos…

E amar verdadeiramente….

Amando-nos a nós mesmos!”


(Inédito)