A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

14 setembro 2022

SER CRIANÇA...


                                                                            (Fotografia da internet)

“Quantas vezes ouvimos dizer que criança não pensa…

Não! Criança pensa sim!

Mas, mais do que pensar… Ou não…

A criança faz também algo mais importante: ela é!

Quando uma criança olha uma flor no jardim…

Ela não está apenas a olhar…

Ela está a ser tudo isso em que se concentra…

Ela é a flor, o pássaro, o vento, o silêncio…

Precisa, pois, que às vezes apenas a deixemos em paz…

 É que a criança imersa no seu ambiente participa de um processo maior do que ela...

E é assim que desabrocha a sua consciência…

Porém, ela tem algo mais valioso do que consciência:

- Tem a intuição de tudo, tem o saber inocente…

Inocência que é perdida na medida em que ela for domesticada…

E, por isso, a muitas só lhes resta preservar a capacidade de sonhar…

Ou não fosse a utopia o terreno da sua liberdade…

Ser criança é, pois, ser a sua própria dimensão…

Na qual o tempo, os aromas e as texturas, as presenças e emoções…

São a sua realidade peculiar…

Por isso, dói hoje olhar em redor e não ver mais crianças…

Vemos apenas, trágicos personagens frutos de famílias desestruturadas…

Onde impera o desamor, a hipocrisia, o isolamento…

Muitas vezes inibidas pela impossibilidade de manifestar afetos…

Ah! Tanta precariedade de laços amorosos…

Tão pouco espaço para diálogo, ternura… E tempo…

Porque não fazer da casa o ninho e não a jaula?

É que a infância é o chão sobre o qual toda a criança caminhará o resto dos seus dias…

Essa batalha que será a de toda a existência…

Se insisto na importância da responsabilidade à família primeira – aos pais…

É porque o amor primeiro, aquele entre pais e filhos…

Vai determinar a expetativa daquele Ser de todos os seus amores do porvir…

Sim, todo o amor tem ou é crise…

Todo o amor exige paciência, bom humor...

Tolerância e firmeza em doses sempre incertas…

Não há receitas nem escola para se ensinar a amar…

As lutas, porém, podem ser positivas… A competição também faz crescer…

Amar é impor e aceitar limites…

Sim, ser pais é ser gravemente responsável…

Não apenas por comida, escola, saúde, mas pela personalidade dos filhos…

Mas será sobre nós, a nossa esperança ou pessimismo, o nosso afeto ou frieza…

Que os filhos darão os primeiros de seus muitos passos…

E farão isso com os seus filhos futuramente…

Serão tão fundamentais para eles...

Quanto os pais dos nossos pais foram na geração anterior…

Atrás e à frente de cada casal humano…

Estende-se uma longa cadeia de erros e acertos geradores de humanidade…

Somos, pois, em parte resultado do que foram os nossos pais...

Então, porque insistimos em criar almas subalternas se podemos criar almas livres?”


(Inédito)

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