“Quantas
vezes ouvimos dizer que criança não pensa…
Não!
Criança pensa sim!
Mas,
mais do que pensar… Ou não…
A
criança faz também algo mais importante: ela é!
Quando
uma criança olha uma flor no jardim…
Ela
não está apenas a olhar…
Ela
está a ser tudo isso em que se concentra…
Ela
é a flor, o pássaro, o vento, o silêncio…
Precisa,
pois, que às vezes apenas a deixemos em paz…
É que a criança imersa no seu ambiente
participa de um processo maior do que ela...
E é
assim que desabrocha a sua consciência…
Porém,
ela tem algo mais valioso do que consciência:
- Tem
a intuição de tudo, tem o saber inocente…
Inocência
que é perdida na medida em que ela for domesticada…
E,
por isso, a muitas só lhes resta preservar a capacidade de sonhar…
Ou
não fosse a utopia o terreno da sua liberdade…
Ser
criança é, pois, ser a sua própria dimensão…
Na
qual o tempo, os aromas e as texturas, as presenças e emoções…
São
a sua realidade peculiar…
Por
isso, dói hoje olhar em redor e não ver mais crianças…
Vemos
apenas, trágicos personagens frutos de famílias desestruturadas…
Onde
impera o desamor, a hipocrisia, o isolamento…
Muitas
vezes inibidas pela impossibilidade de manifestar afetos…
Ah!
Tanta precariedade de laços amorosos…
Tão
pouco espaço para diálogo, ternura… E tempo…
Porque
não fazer da casa o ninho e não a jaula?
É
que a infância é o chão sobre o qual toda a criança caminhará o resto dos seus dias…
Essa
batalha que será a de toda a existência…
Se
insisto na importância da responsabilidade à família primeira – aos pais…
É
porque o amor primeiro, aquele entre pais e filhos…
Vai
determinar a expetativa daquele Ser de todos os seus amores do porvir…
Sim,
todo o amor tem ou é crise…
Todo o amor exige paciência, bom humor...
Tolerância e firmeza em doses sempre
incertas…
Não
há receitas nem escola para se ensinar a amar…
As lutas,
porém, podem ser positivas… A competição também faz crescer…
Amar
é impor e aceitar limites…
Sim,
ser pais é ser gravemente responsável…
Não
apenas por comida, escola, saúde, mas pela personalidade dos filhos…
Mas
será sobre nós, a nossa esperança ou pessimismo, o nosso afeto ou frieza…
Que
os filhos darão os primeiros de seus muitos passos…
E
farão isso com os seus filhos futuramente…
Serão tão fundamentais para eles...
Quanto os pais dos nossos pais foram na geração
anterior…
Atrás
e à frente de cada casal humano…
Estende-se
uma longa cadeia de erros e acertos geradores de humanidade…
Somos,
pois, em parte resultado do que foram os nossos pais...
Então,
porque insistimos em criar almas subalternas se podemos criar almas livres?”
(Inédito)
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