“Quem
ao olhar para a sua amada, pensar apenas em sexo não ama essa mulher…
O
apaixonado sorri ao contemplar a amada dormindo, sem tocá-la…
O
corpo deitado, o rosto sobre o travesseiro, os olhos fechados…
A camisola
suspensa deixando ver a cuequinha…
É
uma imagem de paz, de tranquilidade….
E
não de agitação sexual…
Existe
apenas o desejo de acariciá-la, mas a mão se contém…
Com
a amada, os impulsos sexuais estão adormecidos…
Ah!
Já o sexo é outra coisa completamente diferente…
Mas se
querem saber mais sobre sexo, leiam Freud…
Pois,
ele sabia muito sobre isso…
O
sexo que eu vos falo, tem mais haver com ternura…
Muito
para além do prazer, dá-nos alegria…
E não
usamos a amada como objeto para o nosso alívio…
Mas
tal só acontece quando temos a experiência da paixão….
O
que a maioria dos homens conhece é apenas o prazer do sexo…
Esgotada
a orgia, o seu desejo é livrar-se da mulher…
Qual
animal caçador que abandona a caça tão logo a sua fome é saciada…
Ao
invés, quando amamos, ficamos com aquela dúvida divina:
- O
que amo quando faço amor?
Parece
que existe no cérebro uma zona específica…
Que
poderíamos chamar de memória poética…
Que
regista o que nos encantou e que dá beleza àquele momento…
E por
mais efémero que seja o registo que fica gravado naquela zona do nosso cérebro…
Jamais
outra mulher o apagará…
Agora,
nessa memória poética, aqueles momentos de amor fora do tempo…
Passam
a fazer parte da nossa alma… Não morrem mais!
Ah! O
que amo quando faço amor?
Para
além do amor pela nossa amada, tem de haver mais qualquer coisa…
Que em
vez de caçador, nos faça olhar para a nossa amada como objeto de amor…
Amamos
o belo momento de fazer amor, antes de amar a pessoa…
Amamos
a pessoa porque ela completa o belo momento…
Entendo
agora porque Santo Agostinho escreveu nas suas ‘Confissões’:
«Antes
que te conhecesse eu já te amava»…
Somos amantes antes de nos encontrarmos com a nossa amada...
Que será o objeto do nosso
amor…
A
alma é uma coleção de belos quadros adormecidos…
Com
rostos envoltos pelas sombras…
A sua
beleza é triste e nostálgica…
É
que sendo moradores da alma ao lado dos sonhos…
Eles
não existem do lado de fora…
Mas,
por vezes, defrontamo-nos com um rosto…
Ou
apenas uma voz, um olhar, um gesto com a mão…
Que,
sem razões, ilumina um dos quadros que estava no escuro…
Somos,
então, possuídos pela certeza de que esse rosto que os olhos veem…
É o
mesmo que está no quadro que mora nas sombras da alma…
Então…
Ah! O nosso corpo estremece…
E o
amor floresce…”
(Inédito)
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