A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

13 setembro 2022

SEXO... OU AMOR?

 

                                                                                                                    (Fotografia da internet)

“Quem ao olhar para a sua amada, pensar apenas em sexo não ama essa mulher…

O apaixonado sorri ao contemplar a amada dormindo, sem tocá-la…

O corpo deitado, o rosto sobre o travesseiro, os olhos fechados…

A camisola suspensa deixando ver a cuequinha…

É uma imagem de paz, de tranquilidade….

E não de agitação sexual…

Existe apenas o desejo de acariciá-la, mas a mão se contém…

Com a amada, os impulsos sexuais estão adormecidos…

Ah! Já o sexo é outra coisa completamente diferente…

Mas se querem saber mais sobre sexo, leiam Freud…

Pois, ele sabia muito sobre isso…

O sexo que eu vos falo, tem mais haver com ternura…

Muito para além do prazer, dá-nos alegria…

E não usamos a amada como objeto para o nosso alívio…

Mas tal só acontece quando temos a experiência da paixão….

O que a maioria dos homens conhece é apenas o prazer do sexo…

Esgotada a orgia, o seu desejo é livrar-se da mulher…

Qual animal caçador que abandona a caça tão logo a sua fome é saciada…

Ao invés, quando amamos, ficamos com aquela dúvida divina:

- O que amo quando faço amor?

Parece que existe no cérebro uma zona específica…

Que poderíamos chamar de memória poética…

Que regista o que nos encantou e que dá beleza àquele momento…

E por mais efémero que seja o registo que fica gravado naquela zona do nosso cérebro…

Jamais outra mulher o apagará…

Agora, nessa memória poética, aqueles momentos de amor fora do tempo…

Passam a fazer parte da nossa alma… Não morrem mais!

Ah! O que amo quando faço amor?

Para além do amor pela nossa amada, tem de haver mais qualquer coisa…

Que em vez de caçador, nos faça olhar para a nossa amada como objeto de amor…

Amamos o belo momento de fazer amor, antes de amar a pessoa…

Amamos a pessoa porque ela completa o belo momento…

Entendo agora porque Santo Agostinho escreveu nas suas ‘Confissões’:

«Antes que te conhecesse eu já te amava»…

Somos amantes antes de nos encontrarmos com a nossa amada...

Que será o objeto do nosso amor…

A alma é uma coleção de belos quadros adormecidos…

Com rostos envoltos pelas sombras…

A sua beleza é triste e nostálgica…

É que sendo moradores da alma ao lado dos sonhos…

Eles não existem do lado de fora…

Mas, por vezes, defrontamo-nos com um rosto…

Ou apenas uma voz, um olhar, um gesto com a mão…

Que, sem razões, ilumina um dos quadros que estava no escuro…

Somos, então, possuídos pela certeza de que esse rosto que os olhos veem…

É o mesmo que está no quadro que mora nas sombras da alma…

Então… Ah! O nosso corpo estremece…

E o amor floresce…”


(Inédito)

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