“O
silêncio enquanto experiência e lugar de encontro…
É
algo de revolucionário… E nunca reacionário…
É preciso silenciar para ouvir… Para viver…
Diz
um famoso ditado árabe:
- «Não
abras a boca se o que tens a dizer não for mais belo que o silêncio»…
Ou
como dizia, também, São Bento na sua ‘Regra’ aos monges:
- «Sobre
assuntos bons, santos e edificantes, tão importante é o silêncio»…
Talvez,
por isso…
Os
homens de Deus vivenciaram, também eles, largos momentos de fecundo silêncio…
De Moisés a Oseias ou Elias, todos fizeram a
experiência do silêncio…
O
próprio Jesus Cristo foi um primoroso exemplo de quem soube viver o silêncio…
O
silêncio está vinculado à proximidade do mistério e da intimidade com Deus…
É
que as coisas mais íntimas são sempre pronunciadas aos murmúrios…
Só depois
de um grande silêncio, se abre o caminho da oração…
Santo
Agostinho dizia que a oração é puro silêncio…
Não
é um estar em si somente, embora necessite de um momento introspetivo…
Pois,
esse portal pessoal poderá abrir-nos aos outros e à natureza…
O
silêncio é, pois, um estado de espírito bem como uma profunda atividade de amor…
Foi
chamado pelos místicos como o ascetismo do silêncio…
Exige
conversão e misericórdia…
Pois,
o silêncio interior favorece a comunicação e a sua identidade veraz…
Vencidos
os obstáculos podemos penetrar num estado agudo de felicidade…
Cultivemos,
então, o silêncio…
E cuidemos
dele nas nossas celebrações e na nossa vida quotidiana…
Porque,
o silêncio, não é que tenha valor em si mesmo…
Mas permite
uma abertura para a plenitude que se esconde por detrás das palavras…
Dizia
Clarisse Lispector:
- «Há
um silêncio dentro de mim…
E
esse silêncio tem sido a fonte das minhas palavras»…
Até
o povo diz quando está diante de uma grande felicidade…
Ou
diante de uma grande perda ou fraqueza:
- «Não
tenho palavras para explicar ou dizer»…
O
não dito é muito mais poderoso que a palavra…
Assim
quando precisamos de estar com alguém que tem uma grande dor…
As
palavras como que se desvanecem e se atrofiam…
O
melhor é calar para compreender…
O
silêncio, nestes momentos…
Exprime
melhor a adoração, o abandono…
E o
fascinante que cada ser humano busca ardentemente…
De
novo… Cultivemos o majestoso silêncio…
Para
que possamos escutar o vento… O mar atingindo a praia…
Os pássaros
cantando afetuosas melodias… As crianças balbuciando…
Os pobres
pedindo amor… Os doentes sofrendo…
Os
amigos celebrando… As florestas crescendo…
E,
sobretudo…
Sermos
capazes de auscultar a voz interior proclamando…
Que
o amor de Deus existe em nós, suave e inefável…
Ah!
Como amo o silêncio…
E,
por isso calo-me agora…
Deixo…
Em silêncio…
Este
belo poema do poeta e filósofo, Rabindranath Tagore…
Nele,
o caro leitor pode ler (escutar) o silêncio que preenche o nosso coração:
«Se
não falas…
Se
não falas, vou encher o meu coração…
Com
o teu silêncio, e aguentá-lo…
Ficarei
quieto, esperando, como a noite…
Em
sua vigília estrelada, com a cabeça pacientemente inclinada…
A
manhã certamente virá...
A
escuridão se dissipará, e a tua voz…
Se
derramará em torrentes douradas por todo o céu…
Então,
as tuas palavras voarão…
Em
canções de cada ninho dos meus pássaros…
E as
tuas melodias brotarão…
Em
flores por todos os recantos da minha floresta…»
(Rabindranath
Tagore; Gitanjali, Paulus, 1991, p. 19)
(Inédito)
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