A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

15 setembro 2022

O SILÊNCIO...

 

                                                                                                                      ('Post' da internet)

“O silêncio enquanto experiência e lugar de encontro…

É algo de revolucionário… E nunca reacionário…

É preciso silenciar para ouvir… Para viver…

Diz um famoso ditado árabe:

- «Não abras a boca se o que tens a dizer não for mais belo que o silêncio»…

Ou como dizia, também, São Bento na sua ‘Regra’ aos monges:

- «Sobre assuntos bons, santos e edificantes, tão importante é o silêncio»…

Talvez, por isso…

Os homens de Deus vivenciaram, também eles, largos momentos de fecundo silêncio…

 De Moisés a Oseias ou Elias, todos fizeram a experiência do silêncio…

O próprio Jesus Cristo foi um primoroso exemplo de quem soube viver o silêncio…

O silêncio está vinculado à proximidade do mistério e da intimidade com Deus…

É que as coisas mais íntimas são sempre pronunciadas aos murmúrios…

Só depois de um grande silêncio, se abre o caminho da oração…

Santo Agostinho dizia que a oração é puro silêncio…

Não é um estar em si somente, embora necessite de um momento introspetivo…

Pois, esse portal pessoal poderá abrir-nos aos outros e à natureza…

O silêncio é, pois, um estado de espírito bem como uma profunda atividade de amor…

Foi chamado pelos místicos como o ascetismo do silêncio…

Exige conversão e misericórdia…

Pois, o silêncio interior favorece a comunicação e a sua identidade veraz…

Vencidos os obstáculos podemos penetrar num estado agudo de felicidade…

Cultivemos, então, o silêncio…

E cuidemos dele nas nossas celebrações e na nossa vida quotidiana…

Porque, o silêncio, não é que tenha valor em si mesmo…

Mas permite uma abertura para a plenitude que se esconde por detrás das palavras…

Dizia Clarisse Lispector:

- «Há um silêncio dentro de mim…

E esse silêncio tem sido a fonte das minhas palavras»…

Até o povo diz quando está diante de uma grande felicidade…

Ou diante de uma grande perda ou fraqueza:

- «Não tenho palavras para explicar ou dizer»…

O não dito é muito mais poderoso que a palavra…

Assim quando precisamos de estar com alguém que tem uma grande dor…

As palavras como que se desvanecem e se atrofiam…

O melhor é calar para compreender…

O silêncio, nestes momentos…

Exprime melhor a adoração, o abandono…

E o fascinante que cada ser humano busca ardentemente…

De novo… Cultivemos o majestoso silêncio…

Para que possamos escutar o vento… O mar atingindo a praia…

Os pássaros cantando afetuosas melodias… As crianças balbuciando…

Os pobres pedindo amor… Os doentes sofrendo…

Os amigos celebrando… As florestas crescendo…

E, sobretudo…

Sermos capazes de auscultar a voz interior proclamando…

Que o amor de Deus existe em nós, suave e inefável…

Ah! Como amo o silêncio…

E, por isso calo-me agora…

Deixo… Em silêncio…

Este belo poema do poeta e filósofo, Rabindranath Tagore…

Nele, o caro leitor pode ler (escutar) o silêncio que preenche o nosso coração:

 

«Se não falas…

Se não falas, vou encher o meu coração…

Com o teu silêncio, e aguentá-lo…

Ficarei quieto, esperando, como a noite…

Em sua vigília estrelada, com a cabeça pacientemente inclinada…

 

A manhã certamente virá...

A escuridão se dissipará, e a tua voz…

Se derramará em torrentes douradas por todo o céu…

 

Então, as tuas palavras voarão…

Em canções de cada ninho dos meus pássaros…

E as tuas melodias brotarão…

Em flores por todos os recantos da minha floresta…»

 

(Rabindranath Tagore; Gitanjali, Paulus, 1991, p. 19)


(Inédito)

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