('Post' da Internet)
“No
império do consumo, a cultura do efémero condena tudo ao desuso mediático…
Tudo
muda ao ritmo vertiginoso da moda…
As
coisas envelhecem num piscar de olhos…
Para
serem substituídas por outras coisas de vida fugaz…
Sim,
vivemos hoje numa ditadura da uniformização obrigatória…
Que impõe
um modo de vida que reproduz seres humanos…
Quais
fotocópias do consumidor exemplar…
São
os tempos da produção em série…
Da
febre compradora sem remédio…
A
nova aventura que começa e termina no écran do televisor…
É
todo um novo mundo de endividamento…
Em
que todos se endividam para ter coisas… E mais coisas…
Ou talvez,
apenas mais dívidas para pagar mais dívidas…
É um
mundo descartável…
Cheio
de mercadorias de vida efémera…
Mundo,
afinal, de desperdício disfarçado de liberdade para todos…
Mundo
de insónia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar…
Ah! Gente
infeliz que vive permanentemente a comparar-se!
A
dor de já não ser, abriu passagem à vergonha de não ter…
Mas
quanta invisível violência dos mercados…
Em
que a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda…
Eis,
pois, a civilização que confunde a quantidade com a qualidade…
Que
confunde o lixo disfarçado de comida com a boa alimentação…
A
globalização do hambúrguer, a ditadura do ‘fast food’…
Do
bebam lá cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos água…
Enquanto o tempo de lazer vai-se tornando também
tempo de consumo obrigatório…
Tempo
livre, tempo prisioneiro…
Em que
muitas casas não têm cama, mas têm televisor…
E o
televisor tem a palavra…
Esse
animal que prova a vocação democrática do progresso…
Não
escutando ninguém, mas falando de todos… E para todos…
Os
peritos souberam, pois...
Converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a
solidão…
A
cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados…
As
angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo…
E assim,
hoje, as coisas não só podem abraçar…
Como
elas também podem ser símbolos de ascensão social…
E
enquanto isso…
A
população mundial urbaniza-se, os camponeses tornaram-se cidadãos…
Hoje
temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos…
Não,
Deus já não está em toda parte, mas apenas nas grandes cidades…
Pois
é nas cidades que a vida ocorre… E chama…
Curiosamente,
onde o trabalho falta e os braços sobram…
Onde
as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas…
As
gentes tornaram-se coisas…
E o
mundo inteiro é um grande écran de televisão…
Onde
todas estas coisas se olham mas não se tocam…
As
multidões viajam pelo mundo em escadas rolantes mecânicas…
Ocorrem,
em peregrinação, ao templo maior das missas do consumo…
Sim,
o ‘center’, o ‘shopping center’...
Onde
a maioria dos devotos contempla, em êxtase…
Mais
coisas que os seus bolsos não podem pagar…
Lavados,
passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas….
Os transeuntes
vêm a uma festa onde todos são convidados…
Todos
viajam na cápsula espacial que percorre o universo do consumo…
Onde
a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos...
Marcas e etiquetas...
Até
o dinheiro voa hoje à velocidade da luz…
Ontem
estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe…
Será
que Deus decidiu privatizar o mundo?
Harre!
Para que outro mundo me poderei mudar?
(In "Crónicas Mundanas...")