('Post' da Internet)
“A
gente habitua-se… Mas não devia…
A
gente habitua-se a morar em apartamentos…
E a
não ter outra vista que não as janelas ao seu redor…
E,
porque não tem vista…
Logo
habitua-se a não olhar para fora…
E, à
medida que se habitua…
Esquece
o sol, esquece a amplidão…
A
gente habitua-se a acordar de manhã sobressaltado…
A
tomar o pequeno-almoço a correr porque está atrasado…
A
comer ‘fast-food’ porque não há tempo para almoçar…
A
sair do trabalho porque já é noite…
A
deitar cansado e dormir pesado sem ter vivido o dia…
A
gente habitua-se a sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta…
A
ser ignorado quando precisava tanto ser visto…
A gente
habitua-se a ganhar o dinheiro para pagar as contas...
E a
ganhar menos do que precisa…
E a
pagar mais do que as coisas valem…
E a
procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro…
A
gente habitua-se a ligar a televisão e a assistir a trivialidades…
A
ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável cascata da ilusão…
A
gente habitua-se à poluição…
Às
salas fechadas de ar condicionado…
À
luz artificial de ligeiro tremor…
Ao
choque que os olhos levam com a luz natural…
A
não ouvir os passarinhos, a não ter galo de madrugada…
A
gente habitua-se a coisas demais, para não sofrer…
Em
doses pequenas, tentando não perceber…
E
assim… A gente também se habitua…
A
afastar a dor… Um ressentimento ali, uma revolta acolá…
A
gente habitua-se para não se ralar na aspereza, para preservar a pele…
Habitua-se
para evitar feridas, sangramentos...
A
gente habitua-se para poupar a vida…
Que
aos poucos se gasta…
E
que nos desgasta de tanto habituar…
Até
nos perdermos de nós mesmos…”
(Inédito)