A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

31 agosto 2022

A GENTE HABITUA-SE...

 

                                                                                                           ('Post' da Internet)


“A gente habitua-se… Mas não devia…

A gente habitua-se a morar em apartamentos…

E a não ter outra vista que não as janelas ao seu redor…

E, porque não tem vista…

Logo habitua-se a não olhar para fora…

E, à medida que se habitua…

Esquece o sol, esquece a amplidão…

A gente habitua-se a acordar de manhã sobressaltado…

A tomar o pequeno-almoço a correr porque está atrasado…

A comer ‘fast-food’ porque não há tempo para almoçar…

A sair do trabalho porque já é noite…

A deitar cansado e dormir pesado sem ter vivido o dia…

A gente habitua-se a sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta…

A ser ignorado quando precisava tanto ser visto…

A gente habitua-se a ganhar o dinheiro para pagar as contas...

E a ganhar menos do que precisa…

E a pagar mais do que as coisas valem…

E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro…

A gente habitua-se a ligar a televisão e a assistir a trivialidades…

A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável cascata da ilusão…

A gente habitua-se à poluição…

Às salas fechadas de ar condicionado…

À luz artificial de ligeiro tremor…

Ao choque que os olhos levam com a luz natural…

A não ouvir os passarinhos, a não ter galo de madrugada…

A gente habitua-se a coisas demais, para não sofrer…

Em doses pequenas, tentando não perceber…

E assim… A gente também se habitua…

A afastar a dor… Um ressentimento ali, uma revolta acolá…

A gente habitua-se para não se ralar na aspereza, para preservar a pele…

Habitua-se para evitar feridas, sangramentos...

A gente habitua-se para poupar a vida…

Que aos poucos se gasta…

E que nos desgasta de tanto habituar…

Até nos perdermos de nós mesmos…”


(Inédito)

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