('Post' da Internet)
“Olá,
como está? Seja muito bem-vindo….
E
parabéns…
Estou
encantado com o seu sucesso…
É
que chegar aqui não é fácil…
Na
verdade, devo dizer-lhe que foi um pouco mais difícil do que imagina...
É
que para você estar aqui agora a ler-me…
Trilhões
de átomos agitados tiveram de reunir-se de uma maneira intrincada…
E providencial
a fim de criá-lo…
É
uma organização tão especializada e particular que nunca antes foi tentada…
E
duplique a parada, pois, foi para os dois…
Mas,
lamento dizer-lhe… Só existirá desta vez…
Nos
próximos anos (esperamos), estas partículas minúsculas…
Que agora
se juntaram todas aqui…
Dedicar-se-ão
totalmente aos bilhões de esforços cooperativos necessários…
Para
manter-nos intactos e deixar-nos experimentar o estado maravilhoso…
Conhecido
como Existência….
Fico,
pois, muito grato…
Por
se ter decidido a partilhar comigo também a sua experiência atómica…
Mas saiba uma coisa:
Apesar
de toda a nossa atenção, os nossos átomos na verdade nem ligam para nós…
Aliás,
eles nem sequer sabem que existimos…
Nem sabem
que eles mesmos existem…
São,
afinal, partículas insensíveis… E nem estão vivas…
Não
passam de um montículo de poeira atómica fina…
Sem
nenhum sinal de vida…
Mas,
cuidado, pois, durante a sua existência...
Eles responderão a um só impulso
dominante:
Fazer
com que nós sejamos nós!
A má
noticia é que os átomos são muito volúveis…
E o seu
tempo de dedicação é bem passageiro…
Mesmo
na nossa curta vida humana de apenas cerca de 650 mil horas…
(Sim,
vivemos pouco mais que isso)…
E quando
este marco modesto for atingido, ou algum outro ponto próximo…
Por
motivos desconhecidos, os nossos átomos vão ‘desligar-se’ de nós…
Silenciosamente…
Separar-se-ão e passarão a ser outra coisa…
Aí,
podemos dizer adeus a esta vida...
E digo-lhe
mais:
Mesmo
assim, podemos nos dar por muito satisfeitos de que isto chegue a acontecer…
No
universo em geral, ao que sabemos, não acontece…
É um
facto estranho…
Porque
os átomos que tão amigavelmente...
Se reúnem para formar os seres vivos na Terra…
São
exatamente os mesmos átomos que se recusam a fazê-lo noutras partes…
Por
mais complexa que seja, ao nível químico a vida é curiosamente trivial:
Carbono,
hidrogénio, oxigénio e nitrogénio…
Um
pouco de cálcio, uma pitada de enxofre…
Umas
partículas de outros elementos bem comuns…
Nada
que não encontremos na farmácia mais próxima…
E é
tudo o que precisamos…
A
única coisa especial nos átomos que nos constituem é constituírem-nos a nós…
Ah! Esse
é o milagre da vida!
Mas,
atenção, quer constituam ou não vida noutros cantos do universo…
Os
átomos fazem muitas outras coisas…
Na
verdade, fazem todas as outras coisas…
Sem eles,
não haveria água, ar ou rochas, nem estrelas e planetas…
Ou
qualquer das outras coisas que tornam o universo tão proveitosamente substancial…
Os
átomos são tão numerosos e necessários…
Que
nos esquecemos facilmente que eles nem precisariam existir…
Nenhuma
lei exige que o universo se encha de partículas pequenas de matéria…
Ou
produza luz e gravidade...
E as outras propriedades físicas das quais depende a nossa
existência…
Na
verdade, nem precisaria haver um universo….
Aliás,
durante a maior parte do tempo, não existiu…
Não
existiram átomos, nem universo pelo qual flutuassem…
Não
existia nada… Absolutamente nada por toda a parte!
Portanto,
ainda bem que existem os átomos…
Mas
o facto de que possuímos átomos...
E de que eles se agrupam de maneira tão prestativa…
É
apenas parte do que fez com que nós existíssemos…
Para
estarmos aqui agora, vivos no século XXI...
E suficientemente inteligentes para saber
disto…
Também
tivemos de ser os beneficiários...
De uma cadeia extraordinária de boa sorte
biológica…
Pois,
a sobrevivência na Terra é ‘algo’ surpreendentemente difícil…
Dos bilhões
e bilhões de espécies de seres vivos que existiram desde a aurora do tempo…
A
maioria – 99,99% – não está mais aqui…
A
vida na Terra, veja bem, além de breve, é desanimadoramente frágil…
Um
aspeto curioso de nossa existência...
É provirmos de um planeta exímio em promover
a vida…
Mas ainda
mais exímio em extingui-la...
A
espécie típica na Terra dura apenas uns 4 milhões de anos…
Deste
modo, se quiséssemos permanecer aqui por bilhões de anos…
Precisaríamos
ser tão volúveis quanto os átomos que nos constituem…
Mas
mais… Precisaríamos estar preparados para mudar tudo em nós…
Forma,
tamanho, cor, espécie a que pertencemos, tudo!
E
fazê-lo vezes sem conta…
Isto
é mais fácil falar que de fazer, porque o processo de mudança é aleatório…
Passar
do ‘glóbulo atômico primordial protoplásmico’ para um ser humano moderno…
Ereto
e consciente, exigiu uma série de mutações…
Criadoras
de novos traços, nos momentos certos, por um período longuíssimo…
Portanto,
em diferentes épocas dos últimos 3,8 bilhões de anos…
Tivemos
momentos de aversão ao oxigênio e depois passámos a adorá-lo…
Desenvolvemos
membros e barbatanas dorsais ágeis, pusemos ovos…
Fustigámos
o ar com uma língua bifurcada, fomos luzidios, fomos peludos…
E
milhões de outras coisas…
Ui! Se
nos tivéssemos desviado o mínimo que fosse...
De qualquer destas mudanças
evolucionárias…
Poderíamos
estar agora a lamber algas nalguma parede de uma caverna…
Ou a
espreguiçar-nos como uma morsa em alguma praia pedregosa…
Além
da sorte de nos confinarmos, desde tempos imemoriais...
A uma linha evolucionária
privilegiada…
Fomos
milagrosamente afortunados na nossa ancestralidade pessoal…
Consideremos,
por exemplo, o facto de que, por 3,8 bilhões de anos…
Um
período maior que a idade das montanhas, dos rios e dos oceanos da Terra…
Cada
um dos nossos ancestrais por parte de pai e mãe foi suficientemente atraente…
Para
encontrar um parceiro, suficientemente saudável para se reproduzir…
E
suficientemente abençoado pelo destino e pelas circunstâncias…
Para
viver o tempo necessário para isso…
Nenhum
dos nossos ancestrais foi esmagado, devorado, afogado…
Ou
desviado de qualquer outra maneira da missão…
De
fornecer uma carga minúscula de material genético ao parceiro certo…
No
momento certo…
A
fim de perpetuar a única sequência possível...
De combinações hereditárias capaz
de resultar…
Espantosamente
e por um breve tempo… Em nós…
Pois…
Então, brindemos ambos a este maravilhoso encontro atómico…
Saúde!
À Existência
Eterna (ainda que enquanto poeira atómica)!”
(Inédito)