“Porque
sou professor?
Porque
me interesso pelo estado do mundo…
E se
queremos mudar o mundo, temos de começar pela Educação…
Para
termos um mundo melhor, temos de mudar a Consciência Humana…
Por
isso, decidi ser professor…
E é
sempre mais fácil começar por mudar a consciência dos mais jovens…
Temos
um sistema que instrui e usa de forma fraudulenta a palavra Educação…
Hoje
a Educação limita-se a transmitir informações…
Sempre
lembro aos meus colegas e alunos:
Educar
vem do latim ‘Educare’…
Que significa ‘tirar de dentro’… E não ‘deitar para dentro’!
Por
isso, a Escola de hoje rouba a infância e a juventude dos nossos jovens…
Ocupando-os
com um conteúdo pesado, transmitido de maneira ainda escolástica…
O aluno passa horas ouvindo, inerte...
Tendo como único ‘estímulo’ a memorização de
conteúdos…
É
uma aberração ocupar todo o tempo da criança com informações tão distantes dela…
Enquanto
há tanto conteúdo dentro dela que pode ser usado para que ela se desenvolva…
Como
é possível atafulhar-se o cérebro de uma criança com milhares de informações…
Não
será muito mais importante, por exemplo, o autoconhecimento de cada um?
Percebe-se….
Há que criar um sistema que precisa de um rebanho para robotizar…
As nossas crianças continuam, pois...
A ser preparadas para funcionar num sistema
alienante…
E não para desenvolver as suas potencialidades intelectuais...
Amorosas, naturais e
espontâneas…
Se,
então, queremos mudar todo o sistema…
Temos
de conceber uma educação para a consciência…
Para
o desenvolvimento da mente…
Os
professores têm de se aproximar dos alunos de forma mais afetiva e amorosa…
Para que sejam capazes de conduzir as crianças...
Ao desenvolvimento do
autoconhecimento…
Respeitando
as suas características pessoais, a sua individualidade…
Esse
é o caminho para formar pessoas mais benévolas, solidárias e compassivas…
Hoje
a educação é despótica e repressiva…
A
palavra amor deixou de ter aceitação no mundo da Educação…
Sim,
hoje começa-se já a falar em inteligência emocional…
E está já a ser ensinado aos mais os jovens...
Para que estes tomem consciência das
suas emoções…
É
bom que isso aconteça, mas não tem um impacto transformador…
A
inteligência emocional é aceite apenas porque tem o nome inteligência no meio…
Pois,
tudo o que é intelectual interessa…
Mas,
desenganem-se!
Continua-se
a não se dar importância ao emocional…
Este
aspeto fundamental na vida de qualquer pessoa é, ainda, tratado com preconceito…
E é,
de facto, um total absurdo…
Pois,
qualquer professor sabe que quando implementamos uma didática afetuosa…
Os
alunos aprendem mais facilmente qualquer conteúdo…
E
depois…
O
atual sistema de ensino desperdiça talentos…
Prefere
rotular os alunos com transtornos e distúrbios…
As
perturbações da educação são uma resposta sã a uma educação insana…
As
crianças são rotuladas com distúrbios de atenção e de aprendizagem…
Quando
na maioria dos casos, trata-se de uma negação sã da mente da criança…
De
não querer aprender o irrelevante…
Os
alunos estão cansados de que lhes metamos coisas na cabeça…
O nosso
papel enquanto educadores é levá-los a descobrir, refletir, debater e constatar…
Para isso, é essencial estimular o autoconhecimento...
Respeitando as características
de cada um…
Tudo
é mais efetivo quando a criança entende o que faz mais sentido para ela…
Mas,
para percebermos as raízes desta problemática do nosso sistema educativo…
Temos
de recuar ao começo da era industrial…
Em
que houve necessidade de formar uma força de trabalho obediente…
Foi
uma traição ao ideal do pai do capitalismo, Adam Smith…
Ele
mesmo previu que o sistema criaria uma classe de pessoas dedicadas…
Todos
os dias a fazer só um movimento de trabalho, a classe de trabalhadora…
Previu
que essa repetição produziria a deterioração das suas mentes…
E advertiu que seria vital propiciar uma educação...
Que lhes permitisse desenvolverem-se…
Como
uma forma de evitar a ‘maquinização’ completa dessas pessoas…
Infelizmente,
a sua mensagem foi ignorada…
Desde
então, a Educação funciona como um grande sistema de seleção empresarial…
É
usada para que os alunos passem em exames, consigam boas notas…
Para
que consigam entrar na universidade e posteriormente arranjar um bom emprego…
É
uma distorção do papel essencial que a Educação deveria ter!
Mas
se a Escola faz um mau trabalho, que dizer dos pais…
Muitos
pais só querem que os seus filhos terminem bem a escolaridade…
Para
poderem entrar na universidade e ter uma profissão onde ganhem dinheiro…
Os
pais deveriam ser os primeiros a refletir sobre o facto de que a Educação…
Não se
pode ocupar só do intelecto…
Mas
deve formar pessoas mais solidárias, sensíveis ao outro…
Com o lado materno da natureza menos eclipsado...
Pelo aspeto paterno violento e
exigente…
A
Unesco define ‘Educar’ como ensinar a criança a ser…
As
Constituições dos países, em geral, asseguram a liberdade de expressão aos
adultos…
Mas
não falam das crianças e dos jovens…
São
elas que mais necessitam dessa liberdade para se desenvolver como pessoas sãs…
Capazes
de saber o que sentem e de se expressar…
Se
os pais se dessem conta disto…
Já
seria uma grande ajuda para alterarmos este estado degradado da Educação…
Entendam,
caros amigos…
Vivemos
uma ‘crise civilizacional’…
E
ela não é apenas económica, mas multifacetada e global…
É
uma crise de relações humanas…
A
crise de um mal que já vem de muito lá atrás nas relações humanas…
Uma
incapacidade de fraternidade de verdadeiras relações amorosas…
Um
mal antigo que agora se tornou crise porque se tornou insustentável…
É,
pois, uma crise de amor…
Uma
crise existencial!
E o
que fracassa é o próprio modelo de sociedade vigente:
O
modelo patriarcal!
E
foi esta ‘crise’ que se fez sinal da obsolescência do conjunto de valores…
Até
das próprias instituições…
Precisamos,
pois, de uma mudança de consciência…
E o
melhor caminho é a transformação da Educação…
Que
se foque mais no amor e no desenvolvimento das competências existenciais…”
(In "Crónicas Mundanas...")