A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

09 outubro 2022

PRECISAMOS SENTIR MAIS...

 

                                                                                                                  (Fotografia da Internet)


“Os sentimentos são o motor do processo civilizacional…

Ainda que algumas emoções coletivas nos tenham trazido alguns retrocessos…

Deixemos, pois, de vez esta tendência intelectualista que dá apenas valor à razão…

Os afetos são algo que merece mais atenção…

Alguns, se possível, até suprimiam as emoções…

Pois entendem que não vale a pena manifestá-las…

Ah! Isso é menosprezar a vida!

Os sentimentos integram o conjunto do nosso corpo e da nossa mente…

 E são determinantes para tudo o que a humanidade construiu…

Sim, concordamos...

É bem mais complicado explicar os nossos afetos do que a nossa razão…

O intelecto está ligado ao córtex cerebral e é mais simples analisá-lo…

Já os sentimentos...

Advêm do tronco do cerebelo, da espinal da medula, dos nervos periféricos…

Enfim...

De uma mecânica cuja origem se confunde com o princípio da evolução dos seres vivos…

E toda esta estrutura, a história da sua formação e como ela age…

São aspetos muito difíceis de ser estudados…

Mas, quando aflorarmos melhor este entendimento…

Acreditamos que perceberemos muito melhor o que é ser um humano…

Mas… Já se interrogaram alguma vez de onde vêm os sentimentos?

De um processo biológico que se mescla ao sistema formado por corpo e mente…

Mas para melhor se entender este contexto…

É preciso levar em conta que existem dois aspetos do viver:

- Um é orgânico, relacionado com o nosso corpo… E daí vêm as emoções…

Se o organismo não está saudável, manifesta isso externamente…

- Já os sentimentos são outra coisa…

Eles refletem aspetos internos e estão associados à mente, à alma…

Por estarem dentro de nós, são subjetivos…

Consequentemente, não se exibem em público…

Podemos esconder sentimentos, mas não emoções…

Tudo o que fazemos, individual ou coletivamente…

É, pois, reflexo de demonstrações emocionais e sentimentos…

A questão pertinente que teremos de colocar agora aqui é:

- Somos seres mais sentimentais ou mais racionais?

Sim, somos uma espécie de uma mistura…

O importante é que, além da razão, podemos usar os sentimentos...

Mas que ninguém entenda que estamos a diminuir o ser humano…

Ao dar a ideia de que as emoções e o sentir nos guiam…

Durante muito tempo...

Pensou-se que a razão era o que nos separava dos outros seres vivos…

Essa era uma análise errada!

Apresentamos sentimentos de complexidade e dimensão...

Incomparáveis aos dos não humanos…

E isto é fantástico...

Pois, é o que nos torna o animal mais especial deste planeta…

Sabem…

As emoções estão presentes há bilhões de anos nos seres vivos, mesmo nas bactérias…

Estas já manifestam fisicamente estados que indicam se estão bem ou mal…

(Sem, no entanto, dominarem capacidades mentais)…

As raízes dos nossos sentimentos são fruto de milénios de evolução…

Que nos levaram de manifestações emotivas primárias a processos elaborados…

Isto só foi possível pelo aparecimento do sistema nervoso e do cérebro…

Em intrincados organismos multicelulares…

E foi aqui que nós, humanos, progredimos, usando este avanço como propulsor…

Sim, outros animais têm tanto emoções quanto a capacidade do sentir…

Mas nós é que ligamos isso ao conhecimento acumulado…

Foi assim criada a humanidade!

Quando nos passámos a reunir à volta de uma fogueira…

Tornámo-nos seres sentimentalmente evoluídos...

Pois foi aí, que compreendemos as vantagens sociais dos sentimentos…

Como a forma como eles nos ligam em laços familiares…

Os sentimentos tornaram-se, pois, mais um fator evolutivo…

Que nos ajudou a sobreviver no mundo…

Mas, tenhamos algum cuidado para não cairmos em sentimentos coletivos…

Não! Isso pode levar-nos a extremismos…

O descontrole dos sentimentos coletivos pode levar a autocracias…

Para evitá-lo, precisamos disseminar o conhecimento….

Sim, combater fervorosamente toda a ignorância…

E deveríamos começar por ensinar as nossas crianças...

A saberem lidar com os próprios sentimentos…

É que face à nossa biologia…

É natural manifestarmos sentimentos como a raiva, o ódio...

Que levam a conflitos danosos…

É urgente, pois, ensinar a desenvolver a inteligência emocional…

Para mostrar as vantagens consequentes dos bons sentimentos...

E da contenção dos ruins…

E criarmos, assim, condições para uma vida melhor...

Em busca do progresso civilizacional…

É que se não cientificarmos as nossas atitudes emocionais...

Será inevitável a repetição da história…

O nosso corpo e a nossa mente estão programados...

Para a reprodução do que sempre fizemos…

Hoje, a ausência (para uma maioria) de conhecimento histórico sentimental…

Conduziu-nos às manifestações culturais provenientes dos sentimentos negativos…

E não nos esqueçamos…

O leque de emoções com que trabalhamos é o mesmo desde os primórdios…

Já com os sentimentos, avançamos em como lidar com eles…

Aprendemos a ser menos violentos do que há mil anos…

Também evoluímos na nossa bondade…

Talvez por isso ainda vivamos com alguma paz…

Mas há novos riscos…

Hoje a inteligência artificial já é capaz de simular emoções…

Mas não de sentir de verdade, justamente por não terem vida…

Estejamos, pois, muito atentos…

Para que não se criem ‘novos monstros' que nos veem como mais uma ameaça…”


(Inédito)

08 outubro 2022

DEEM-ME APENAS SILÊNCIO...

 

                                                                                                                          ('Post' da Internet)


 “O ruído desnecessário é a falta de atenção mais cruel que posso sentir…

Não! Mais ruídos não!

Deem-me, antes silêncio…

É que o silêncio tem um impacto enorme em mim…

E isso ajuda-me a ser mais flexível frente às mudanças…

É que o silêncio dá-me sentido à informação…

Integra-a na minha memória, ou descarta-a se for irrelevante…

E, sobretudo, ata os cabos que me permitem encontrar as soluções...

Pois… É no silêncio que melhor reflito sobre mim mesmo…

O que é essencial para reafirmar a minha identidade…

Ah! Deixem-me desfrutar do silêncio…

O ruído do mundo é para os viajantes cansados…

 Eu, enquanto amante do silêncio…

Prefiro diálogos mudos e incessantes…”


(Inédito)

07 outubro 2022

TEMPORALIDADE URBANA...

 

                                                                    (Fotografia da Internet)


“Nós, Homens, sabemos que não controlamos o tempo…

Os constantes instantes que se tornam, afinal, a história do nosso quotidiano…

Também, por isso, o tempo pode ser encarado das mais diversas maneiras…

Baillard dividia o tempo em três tipos:

- O tempo cósmico, o tempo histórico e o tempo existencial…

O tempo cósmico, da natureza, sujeito ao cálculo matemático…

O tempo histórico, objetivado, pois a História o testemunha…

Mas no qual há censuras, face à sua profunda carga humana…

E o tempo existencial, tempo íntimo, interiorizado, mas não objetivado…

É o tempo do mundo da subjetividade e não da objetividade…

Mas, na urbanidade, estes tempos todos comunicam-se entre eles…

Na medida em que o tempo urbano também é social…

Para Heidegger, sem o Homem não existe tempo…

Pois, é deste tempo do Homem, do tempo social contínuo e descontínuo…

Que não flui de maneira uniforme, que hoje lhe vimos falar…

Ah! De quantos tipos de tempo poderíamos falar…

Do tempo matemático, do tempo cósmico, do tempo histórico, do tempo do relógio…

Em todos estes observamos uma evolução que é assinalável ao longo da História…

O relógio que foi descoberto num determinado momento da História…

Marca agora um tempo que é a medida desse mesmo relógio…

Mas que foi ocupado pela substância social…

O tempo individual, o tempo vivido, sonhado, vendido e comprado…

Tempo simbólico, mítico, tempo das sensações, mas com significação limitada…

Aquele que não é suscetível de avaliação se não referido a esse tempo histórico…

Tempo sucessão, tempo social, o ontem, o hoje, o amanhã…

Estas sequências, que nos dão as mudanças que fazem história…

Que criam as periodizações, isto é, as diferenças de significação…

Mas se quisermos aprofundar-nos mais no tempo… Ou sobre o tempo…

Precisaríamos de distinguir entre o tempo como sequência – o transcurso…

Do tempo como raio de operações – o espaço…

E o tempo como rapidez de mudanças, como riqueza de operações…

Aí se vê que o tempo aparece como sucessão, permitindo a tal periodização…

Depois aparece como raio de operações, isto é, o tempo que nos é concomitante…

Ou que foi contemporâneo de uma outra geração…

E são estas duas aceções de tempo que nos permitem perceber o tempo na urbanidade…

Há uma ordem do tempo que é a das periodizações…

Na urbanidade atual, a ideia de periodização está muito presente…

É presente nas cidades que encontramos ao longo da História…

Porque cada uma delas nasce com características próprias…

Ligadas às necessidades e possibilidades da época…

E é presente no presente, à medida que o espaço é formado pelo menos de dois elementos:

A materialidade e as relações sociais…

A materialidade, que é uma adição do passado e do presente…

Porque está presente diante de nós, mas traz-nos o passado através das formas…

Na realidade, a paisagem é toda ela passado…

Porque o presente que escapa das nossas mãos, já é passado também…

A técnica é, pois, também, sinónimo de tempo:

Cada técnica representa um momento das possibilidades da realização humana…

E é a técnica que nos traz as periodizações…

Que nos permitem reconstituir a paisagem…

Neste caso, a acumulação de tempos desiguais, que é a paisagem urbana…

Como ela chegou até nós…

Este momento no qual vivemos, é, pois, de uma sociedade sincrónica, integral…

Na qual o homem vive sob a obsessão do tempo…

Sociedade essa que é, ao mesmo tempo, 'cronofágica'…

E é nesta sociedade 'cronofágica', à qual o tempo cede...

Que nós encontramos a urbanidade…

As cidades de hoje são como organismos fantasticamente complexos...

Administrar uma população imensa depende de um só fator: o tempo!

E os programadores tornaram-se nos senhores absolutos da cidade…

Em breve, a totalidade da existência de cada um...

Será administrada por mais um ministério:

O Ministério do Tempo!

Já se questionaram porque a urbanidade não ostenta mais os seus relógios?

Sim, ainda existem cidades que têm os seus relógios…

Mas esses relógios são apenas mais uma mostra da modernidade…

Por isso, já nem são meras cidades, mas antes 'cronópolis'…

É que tiveram de se adaptar às assincronias e as dessincronias que se estabeleceram…

O império do tempo é muito grande sobre nós…

Mas é, sobre nós, diferentemente estabelecido…

Nós, Homens, não temos o mesmo comando do tempo na cidade…

O que quer dizer que, paralelamente a um tempo que é sucessão…

Temos um tempo dentro do tempo, um tempo contido no tempo…

Um tempo que é comandado, aí sim, pelo espaço…

Nesse momento em que o tempo aparece como havendo dissolvido o espaço…

E alguns o descrevem assim, a realidade é exatamente oposta…

O espaço impede que o tempo se dissolva

E qualifica-o de maneira extremamente diversa para cada ator…

É verdade que Kant já havia escrito também…

Que o espaço aparece como uma estrutura de coordenação desses tempos diversos…

O espaço permite que os Homens com temporalidades diversas…

Coexistam na mesma cidade, não de modo harmonioso, mas de modo harmónico…

E também atribui a cada Homem…

Formas particulares de comando e de uso do tempo…

Formas particulares de comando e de uso do espaço…

Não fosse assim...

A urbanidade não permitiria a convivência do Homem pobre com o Homem rico…

Isto só é possível porque há um tempo dentro do tempo…

Quer dizer, o recorte sequencial do tempo…

Nós temos um outro recorte, que é aquele que aparece como espaço…

Esta temporalização, digamos assim, prática, aparece nos contextos…

Ou na sucessão de contextos, onde o tempo…

À imagem de Einstein, se confunde com o espaço…

O espaço é tempo, concebendo a técnica como tempo…

Incluindo entre as técnicas, não apenas as técnicas da vida material...

Mas as técnicas da vida social…

Que vão permitir-nos a interpretação de contextos sucessivos…

De tal maneira que o espaço aparece como coordenador...

Dessas diversas organizações do tempo…

O que permite, por conseguinte, nesse espaço tão diverso…

Essas temporalidades que coabitam no mesmo momento histórico...

De tal maneira que temos de trazer à reflexão...

As noções de tempo longo e de tempo curto…

Ou mesmo de tempo rápido e tempo lento…

É que a urbanidade é o palco dos atores mais diversos que nela coexistem…

Alguns movimentam-se segundo um tempo rápido, outros, segundo um tempo lento…

De tal maneira...

Que a materialidade que possa parecer como tendo uma única indicação…

Na realidade não a tem...

Porque essa materialidade é atravessada por esses atores, esses Homens…

Segundo o tempo, que pode ser lento ou rápido…

Tempo rápido é o tempo do Homens hegemónicos…

E o tempo lento é o tempo dos Homens hegemonizados…

A economia pobre trabalha nas áreas onde a velocidades é lenta…

Quem necessita de velocidade rápida é o Homem hegemónico…

É para esta classe que tem, por exemplo...

Significação as grandes avenidas urbanas, ou as autoestradas…

E é o Homem rico que as usa melhor…

Hoje querem que viajemos muito depressa…

Foram criadas as condições materiais para que o tempo gasto na viagem seja curto…

Já no suburbano, o Homem pobre anda mais devagar…

Pois, não há uma materialidade que favoreça o tempo rápido…

Aqui, a materialidade impõe antes um tempo lento…

Ou seja, o Homem pobre vive dentro da cidade sob um tempo lento…

São temporalidades concomitantes e convergentes…

Que têm como base o facto de que também os objetos têm uma certa temporalidade…

Sim, os objetos também impõem um tempo aos Homens…

A partir do momento em que criamos objetos…

Depositamo-los num lugar e eles passam a conformar-se a esse lugar…

Passam a dar, digamos assim, a cara do lugar…

Esses objetos impõem à sociedade ritmos, formas temporais do seu uso…

Das quais os Homens não podem furtar-se e que terminam, de alguma maneira...

Por dominá-los…

Não que os objetos deixem de ser obedientes e passem a nos comandar…

Os objetos comandam-nos de alguma maneira…

Mas esse comando dos objetos sobre o tempo...

Consagra essa união entre o espaço e o tempo…

Mas, evidentemente, não o espaço e o tempo dos Homens como nós…

Que tentam viver à margem da urbanidade temporal…”


(Inédito)

06 outubro 2022

ENQUANTO PROFESSOR... SÓ ENSINEI O QUE SABIA...

AINDA QUE ATRASADO, POIS ONTEM, DIA 5 DE OUTUBRO, FOI DIA MUNDIAL DO PROFESSOR,,,

DEIXO, ENTÃO, TAMBÉM ENQUANTO PROFESSOR A MINHA MAIS SINGELA HOMENAGEM A ESSES 'OBREIROS DO PORVIR'...


                                                              (Fotografia da Internet)

“Durante a minha carreira docente ensinei apenas aquilo que sabia…

Sim, partilhei com os meus alunos o meu saber…

Mas hoje… Depois de tantos anos a ensinar…

Percebi que não fiz nada de mais…

Os meus alunos que hoje se tornaram Homens…

Continuam a construir casas, a abrir estradas, a trabalhar campos, a gerar filhos…

Ou seja, limitam-se a viver a vida quotidiana, com as suas alegrias e tristezas…

Afinal, eu apenas perpetuei mais um padrão deste mundo…

Sim, ensinei-lhes alguns mapas do mundo que nos rodeia…

Mas, esqueci-me de lhes mostrar outros mapas bem mais importantes:

- Os mapas dos céus, os mapas das gentes, os mapas da alma…

É que com esses, eu poderia ter-lhes ensinado a andar sem medo…

Pisando sempre a terra firme…

De que valeu, pois, eu ensinar a andar por caminhos conhecidos?

Não! O melhor que eu deveria ter feito, era calar a boca e nada mais dizer…

O que eu me deveria ter limitado a fazer, era dar asas…

Asas que eles imaginaram apenas ter visto em sonhos…

É que todos os Homens são seres alados por nascimento…

E só se esquecem da sua maior vocação quando enfrentam as alturas…

Ainda enfeitiçados pelo conhecimento das coisas já sabidas…

Pois… Eu apenas ensinei o que sabia…

Quando deveria ter ensinado o que não sabia: o desconhecido!

Sim, sei que era e é muito difícil fazê-lo…

Pois, o horizonte torna-se imenso e escuro…

Onde a luz do sol demora a chegar…

Mas um ser alado precisa da ilusão do horizonte…

Ao invés da solidez da terra monótona, qual fraca ilusão…

Ah! É preciso voar!

Deixar atrás a terra dos pais e dos avós…

E buscar a terra do porvir, ainda não vista, desconhecida…

Mas, para aquele professor que hoje sonhar em ensinar assim…

Saiba que para esta aventura os mapas que nos ensinaram já não servem mais…

E muito menos todos os diplomas que se tiver…

E mais alerto:

Será doloroso perceber a inutilidade de todo o saber aprendido…

É que para os nossos alunos aprenderem a voar, só precisam de apenas uma coisa:

Dos seus sonhos!

Pois, os sonhos são os mapas dos viajantes que procuram novos mundos…

E é na busca dos sonhos que os nossos alunos terão de construir um novo saber…

Que nem nós mesmos sabemos…

E os seus pensamentos terão de ser também outros, diferentes daqueles que nós temos…

O nosso saber é apenas um pássaro engaiolado…

Que pula de poleiro em poleiro…

Ah! Mas dos sonhos saem pássaros selvagens…

Que nenhuma Educação pode domesticar…

No meu caso… O meu saber ensinou-os apenas a andar por caminhos sólidos…

Sim, indiquei-lhe as pedras mais firmes…

Aquelas onde eu pensava poderem colocar os seus pés, sem medo…

Mas, e quando eles precisarem de caminhar por um rio com pedras incógnitas?

É aqui que reside o busílis da questão:

Importa ter um corpo movido pelo sonho, ou um corpo movido pelas certezas?

Pois… Confesso, não fui lá grande professor...

Apenas ensinei os meus alunos a marchar…

E, infelizmente, é isto que ainda hoje se ensina na Escola…

Caminhar com passos firmes…

Não saltar nunca sobre o vazio…

Tudo tem de ser construído sobre (supostas) fundações sólidas…

Mas, esquecemo-nos que neste ensino de rigor, desaprende-se o fascínio do ousar…

E, mais…

Inclusive, até se desaprende mesmo a arte de comunicar…

Todos se atrevem a falar, mas se solidamente apoiados na autoridade…

Sim, também a Escola e a Universidades têm os seu papas...

Os seus dogmas e as suas ortodoxias…

Ou não fosse o ‘grande’ sucesso de qualquer carreira académica...

Aprender a fazer tudo o que os mestres ditam…

Não! Com Zaratustra, aprendi que para se aprender a pensar...

É preciso primeiro aprender a dançar…

Quem dança com as ideias descobre que pensar é alegria…

E se hoje percebi que o pensar deu mais tristeza aos meus alunos…

É porque eles só sabem marchar, quais soldados em ordem unida…

Não! A partir de hoje vou ensiná-los a saltarem sobre o vazio…

E, sobretudo, a não terem medo da(s) queda(s)…

Não foi também assim que se construiu a ciência?

Não pela prudência dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham…

Ah! Todo o conhecimento começa com o sonho…

O conhecimento nada mais é do que a aventura pelo céu desconhecido…

Em busca da terra sonhada…

Mas sonhar é coisa que não se ensina…

Por isso, hoje, enquanto professor que ainda sou…

Só passarei a pedir uma coisa aos meus alunos:

«Contem-me os vossos sonhos, para que sonhemos juntos!»”


(Inédito)

SE EU NÃO VOLTAR MAIS POR AQUI...

 

                                                      (Fotografia da Internet)


“Se eu não voltar mais por aqui...

Não! Não haverão mais recomeços…

Nem mais pôr do sol, nem luar...

Mas… Ficarão coisas boas…

E sim, outras menos boas...

Ficará o meu sorriso...

O amor? Ah! Perdoem-me, mas esse levá-lo-ei comigo!

Ainda que deixe por cá muitos amores...

Só fico triste porque nesta passagem efémera…

O meu coração não encontrou o amor ‘pra’ vida...

Aquela alma que encaixaria na minha...

Talvez, por isso, sofri tanto por desamor...

E fui apunhalado por desilusões...

Sim, confesso também, errei muito e tantas vezes...

E muitas vezes a vida me deitou ao chão…

Mas outras tantas me levantei sem conta...

É! Perdi-me…

Mas, também, fui um achado...

Ainda que pudesse ter sido mais...

Mas… Se eu não voltar por aqui amanhã…

Saibam que…

Fui feliz... Ainda que, por vezes, infeliz…

Chorei… E ri…

 Iludi-me… E desiludi…

Enganei-me… E fui enganado…

Mas como disse:

Amei… Amei muito! E fui amado…

Por isso, se eu não voltar por aqui amanhã…

É porque parti… E com alguma satisfação…

Pois, a verdade sempre fez parte de mim…

E, talvez por isso…

O meu coração (também) parta… Em paz!”


(Inédito)

05 outubro 2022

SE EU PUDESSE VOLTAR A TRÁS...

 


“Se eu pudesse voltar atrás na minha vida…

Ah! Como eu teria cometido mais erros…

Corrido mais riscos…

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais….

Na verdade, poucas coisas teria levado tão a sério…

E, sobretudo… Teria contemplado mais entardeceres…

Teria subido mais montanhas…

Teria ido a mais lugares onde nunca fui…

Como fui tão ignorante em não perceber que só temos o momento….

Amigos… Não percam o agora!

Quando comemoramos mais um aniversário, dizemos:

Vou fazer tantos anos…

Mas que grande engano!

Deveríamos era dizer:

Estou a ponto de ‘desfazer’ mais um ano!

É que a celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer…

Um tempo que deixou de ser…

Não existe mais…

Não entendo, pois...

A razão de se parabenizar um aniversariante por mais um ano de vida…

Não deveríamos antes, invocar os anos ainda não vividos, cujo número não sabemos?

Ah! Se eu pudesse viver a minha vida novamente…

Eu quereria vivê-la com mais desenganos, fracassos e equívocos….

Mas que ninguém entenda que eu não fui feliz…

Claro que tive muitos momentos de alegria…

Mas, se pudesse voltar atrás, trataria de ter somente bons momentos…

Porque, de facto, a vida é feita de momentos…

Ainda assim, vivo um crepúsculo bonito…

E apesar de muitos sofrimentos no caminho…

Estou onde estou pelos caminhos e descaminhos que percorri…

Por mais que planeasse a minha vida…

Cheguei… Onde cheguei…

Estou onde estou porque todos os meus planos deram errado…

As pontes que construí para chegar onde eu queria ruíram uma após a outra…

Fui, pois, sendo obrigado a procurar caminhos não pensados…

Sim, escorreguei…

Mas, diga-se em abono da verdade:

A vida também me empurrou!

Fui, literalmente, obrigado a fazer o que não queria…

E sofri na pele a dor da solidão e da rejeição…

Mas sabem…

Foi esse espaço de solidão na minha alma…

Que me fez pensar coisas que de outra forma eu não teria pensado...

Como eu disse…

Cheguei onde estou por caminhos que não planeei…

E este… Aqui, agora…

É um lugar feliz com o qual nunca sonhei…

Pois, é melhor viver errado a coisa certa do que viver certo a coisa errada…

E, pelo meio…

Plantei árvores, escrevi livros, tenho alguns amigos…

(Não, não tive filhos)...

Mas, sobretudo, gosto muito de brincar e de me rir…

Que mais posso desejar?

Se eu pudesse voltar atrás novamente…

Eu teria vivido a minha vida como a vivi…

Porque estou feliz onde estou…

E como sou!”


(Inédito)

04 outubro 2022

PEDRAS SAGRADAS...

 

                                                                                                         (Fotografia de Luís Borges)


“Pedras...

Vós que sois bênção ancestral...

Porque não me segredais nos meus sentidos...

Sobre os primórdios da Terra?

Sim, sois pedras sagradas...

Lavadas pelas chuvas...

Queimadas pelo sol...

Ah! Como eu desejaria sobre o meu túmulo...

E no silêncio da morte...

Pedras vivas como vós...

E eu... Talvez assim...

Pudesse ter uma fala definitiva convosco...

Sobre o Universo...

Sobre a Terra... Sobre a Vida...

E a morte!"


(In "A vida é um caminho... E deixa rastro...")

PARAR... É PRECISO!

 

                                                                                                                            ('Post' da internet)


“Descontinuar, abrandar, parar…

Sim, para continuar, é preciso parar…

Se não o fio emaranha-se, a energia finda… E o amor cansa-se…

É verdade, o tempo nunca pára…

Mas também não sente e não muda o ritmo…

Nós, que vivemos dentro da dança do tempo…

Precisamos de pausas e descansos para retomar a marcha do porvir…

De vez em quando saímos da rota, perdemos a bússola…

E deixamos a vida à deriva…

Perdemos a motivação, sentimos medo…

Sofremos, temendo que desta será definitivo…

E que por fim a exaustão nos quebrará...

Mas não… A vida só nos está a pedir uma pausa…

Pausa para retomar as forças…

Para encher o peito de coragem…

Pausa para encadear os pensamentos…

Renovar o que se justifica e descartar o lixo…

Pausa para estar só… E sentir-se só...

E estar só ajuda a refletir…

E depois…

A pausa ajuda a entender que as pausas são a reposição do fôlego perdido nas perdas…

Sejam elas de tempo, energia, dinheiro, esperanças, ilusões, confiança, fé...

Ah! As pausas renovam e curam…

O ritmo restabelece-se, as cores voltam, e com elas, o alento para encarar o novo…

Sim, porque o novo só chega após uma pausa…

Porque um remendo será sempre a parte mais frágil de um todo…

Porque é preciso romper para recomeçar, findar os ciclos…

E deixar o silêncio formular as respostas que ainda não temos...

Não, uma pausa não é um adeus…

É apenas um até breve…

Um vou ali e volto já…

Afinal…

Um reencontro a sós para formular novas respostas e planos para o que há de vir…”


(Inédito)