AINDA QUE ATRASADO, POIS ONTEM, DIA 5 DE OUTUBRO, FOI DIA MUNDIAL DO PROFESSOR,,,
DEIXO, ENTÃO, TAMBÉM ENQUANTO PROFESSOR A MINHA MAIS SINGELA HOMENAGEM A ESSES 'OBREIROS DO PORVIR'...
“Durante
a minha carreira docente ensinei apenas aquilo que sabia…
Sim,
partilhei com os meus alunos o meu saber…
Mas
hoje… Depois de tantos anos a ensinar…
Percebi
que não fiz nada de mais…
Os meus
alunos que hoje se tornaram Homens…
Continuam
a construir casas, a abrir estradas, a trabalhar campos, a gerar filhos…
Ou
seja, limitam-se a viver a vida quotidiana, com as suas alegrias e tristezas…
Afinal,
eu apenas perpetuei mais um padrão deste mundo…
Sim,
ensinei-lhes alguns mapas do mundo que nos rodeia…
Mas,
esqueci-me de lhes mostrar outros mapas bem mais importantes:
- Os
mapas dos céus, os mapas das gentes, os mapas da alma…
É
que com esses, eu poderia ter-lhes ensinado a andar sem medo…
Pisando
sempre a terra firme…
De
que valeu, pois, eu ensinar a andar por caminhos conhecidos?
Não!
O melhor que eu deveria ter feito, era calar a boca e nada mais dizer…
O
que eu me deveria ter limitado a fazer, era dar asas…
Asas
que eles imaginaram apenas ter visto em sonhos…
É
que todos os Homens são seres alados por nascimento…
E só
se esquecem da sua maior vocação quando enfrentam as alturas…
Ainda
enfeitiçados pelo conhecimento das coisas já sabidas…
Pois…
Eu apenas ensinei o que sabia…
Quando
deveria ter ensinado o que não sabia: o desconhecido!
Sim,
sei que era e é muito difícil fazê-lo…
Pois,
o horizonte torna-se imenso e escuro…
Onde
a luz do sol demora a chegar…
Mas
um ser alado precisa da ilusão do horizonte…
Ao
invés da solidez da terra monótona, qual fraca ilusão…
Ah!
É preciso voar!
Deixar
atrás a terra dos pais e dos avós…
E buscar
a terra do porvir, ainda não vista, desconhecida…
Mas,
para aquele professor que hoje sonhar em ensinar assim…
Saiba
que para esta aventura os mapas que nos ensinaram já não servem mais…
E
muito menos todos os diplomas que se tiver…
E
mais alerto:
Será
doloroso perceber a inutilidade de todo o saber aprendido…
É
que para os nossos alunos aprenderem a voar, só precisam de apenas uma coisa:
Dos seus
sonhos!
Pois,
os sonhos são os mapas dos viajantes que procuram novos mundos…
E é
na busca dos sonhos que os nossos alunos terão de construir um novo saber…
Que nem
nós mesmos sabemos…
E os
seus pensamentos terão de ser também outros, diferentes daqueles que nós temos…
O nosso
saber é apenas um pássaro engaiolado…
Que
pula de poleiro em poleiro…
Ah! Mas
dos sonhos saem pássaros selvagens…
Que
nenhuma Educação pode domesticar…
No
meu caso… O meu saber ensinou-os apenas a andar por caminhos sólidos…
Sim,
indiquei-lhe as pedras mais firmes…
Aquelas
onde eu pensava poderem colocar os seus pés, sem medo…
Mas,
e quando eles precisarem de caminhar por um rio com pedras incógnitas?
É
aqui que reside o busílis da questão:
Importa
ter um corpo movido pelo sonho, ou um corpo movido pelas certezas?
Pois…
Confesso, não fui lá grande professor...
Apenas
ensinei os meus alunos a marchar…
E,
infelizmente, é isto que ainda hoje se ensina na Escola…
Caminhar
com passos firmes…
Não
saltar nunca sobre o vazio…
Tudo
tem de ser construído sobre (supostas) fundações sólidas…
Mas,
esquecemo-nos que neste ensino de rigor, desaprende-se o fascínio do ousar…
E,
mais…
Inclusive,
até se desaprende mesmo a arte de comunicar…
Todos
se atrevem a falar, mas se solidamente apoiados na autoridade…
Sim, também a Escola e a Universidades têm os seu papas...
Os seus dogmas e as suas
ortodoxias…
Ou não fosse o ‘grande’ sucesso de qualquer carreira académica...
Aprender a fazer tudo o que os
mestres ditam…
Não! Com Zaratustra, aprendi que para se aprender a pensar...
É preciso primeiro aprender
a dançar…
Quem
dança com as ideias descobre que pensar é alegria…
E se
hoje percebi que o pensar deu mais tristeza aos meus alunos…
É
porque eles só sabem marchar, quais soldados em ordem unida…
Não!
A partir de hoje vou ensiná-los a saltarem sobre o vazio…
E,
sobretudo, a não terem medo da(s) queda(s)…
Não
foi também assim que se construiu a ciência?
Não
pela prudência dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham…
Ah! Todo
o conhecimento começa com o sonho…
O
conhecimento nada mais é do que a aventura pelo céu desconhecido…
Em
busca da terra sonhada…
Mas
sonhar é coisa que não se ensina…
Por
isso, hoje, enquanto professor que ainda sou…
Só passarei
a pedir uma coisa aos meus alunos:
«Contem-me
os vossos sonhos, para que sonhemos juntos!»”
(Inédito)
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