A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

06 outubro 2022

ENQUANTO PROFESSOR... SÓ ENSINEI O QUE SABIA...

AINDA QUE ATRASADO, POIS ONTEM, DIA 5 DE OUTUBRO, FOI DIA MUNDIAL DO PROFESSOR,,,

DEIXO, ENTÃO, TAMBÉM ENQUANTO PROFESSOR A MINHA MAIS SINGELA HOMENAGEM A ESSES 'OBREIROS DO PORVIR'...


                                                              (Fotografia da Internet)

“Durante a minha carreira docente ensinei apenas aquilo que sabia…

Sim, partilhei com os meus alunos o meu saber…

Mas hoje… Depois de tantos anos a ensinar…

Percebi que não fiz nada de mais…

Os meus alunos que hoje se tornaram Homens…

Continuam a construir casas, a abrir estradas, a trabalhar campos, a gerar filhos…

Ou seja, limitam-se a viver a vida quotidiana, com as suas alegrias e tristezas…

Afinal, eu apenas perpetuei mais um padrão deste mundo…

Sim, ensinei-lhes alguns mapas do mundo que nos rodeia…

Mas, esqueci-me de lhes mostrar outros mapas bem mais importantes:

- Os mapas dos céus, os mapas das gentes, os mapas da alma…

É que com esses, eu poderia ter-lhes ensinado a andar sem medo…

Pisando sempre a terra firme…

De que valeu, pois, eu ensinar a andar por caminhos conhecidos?

Não! O melhor que eu deveria ter feito, era calar a boca e nada mais dizer…

O que eu me deveria ter limitado a fazer, era dar asas…

Asas que eles imaginaram apenas ter visto em sonhos…

É que todos os Homens são seres alados por nascimento…

E só se esquecem da sua maior vocação quando enfrentam as alturas…

Ainda enfeitiçados pelo conhecimento das coisas já sabidas…

Pois… Eu apenas ensinei o que sabia…

Quando deveria ter ensinado o que não sabia: o desconhecido!

Sim, sei que era e é muito difícil fazê-lo…

Pois, o horizonte torna-se imenso e escuro…

Onde a luz do sol demora a chegar…

Mas um ser alado precisa da ilusão do horizonte…

Ao invés da solidez da terra monótona, qual fraca ilusão…

Ah! É preciso voar!

Deixar atrás a terra dos pais e dos avós…

E buscar a terra do porvir, ainda não vista, desconhecida…

Mas, para aquele professor que hoje sonhar em ensinar assim…

Saiba que para esta aventura os mapas que nos ensinaram já não servem mais…

E muito menos todos os diplomas que se tiver…

E mais alerto:

Será doloroso perceber a inutilidade de todo o saber aprendido…

É que para os nossos alunos aprenderem a voar, só precisam de apenas uma coisa:

Dos seus sonhos!

Pois, os sonhos são os mapas dos viajantes que procuram novos mundos…

E é na busca dos sonhos que os nossos alunos terão de construir um novo saber…

Que nem nós mesmos sabemos…

E os seus pensamentos terão de ser também outros, diferentes daqueles que nós temos…

O nosso saber é apenas um pássaro engaiolado…

Que pula de poleiro em poleiro…

Ah! Mas dos sonhos saem pássaros selvagens…

Que nenhuma Educação pode domesticar…

No meu caso… O meu saber ensinou-os apenas a andar por caminhos sólidos…

Sim, indiquei-lhe as pedras mais firmes…

Aquelas onde eu pensava poderem colocar os seus pés, sem medo…

Mas, e quando eles precisarem de caminhar por um rio com pedras incógnitas?

É aqui que reside o busílis da questão:

Importa ter um corpo movido pelo sonho, ou um corpo movido pelas certezas?

Pois… Confesso, não fui lá grande professor...

Apenas ensinei os meus alunos a marchar…

E, infelizmente, é isto que ainda hoje se ensina na Escola…

Caminhar com passos firmes…

Não saltar nunca sobre o vazio…

Tudo tem de ser construído sobre (supostas) fundações sólidas…

Mas, esquecemo-nos que neste ensino de rigor, desaprende-se o fascínio do ousar…

E, mais…

Inclusive, até se desaprende mesmo a arte de comunicar…

Todos se atrevem a falar, mas se solidamente apoiados na autoridade…

Sim, também a Escola e a Universidades têm os seu papas...

Os seus dogmas e as suas ortodoxias…

Ou não fosse o ‘grande’ sucesso de qualquer carreira académica...

Aprender a fazer tudo o que os mestres ditam…

Não! Com Zaratustra, aprendi que para se aprender a pensar...

É preciso primeiro aprender a dançar…

Quem dança com as ideias descobre que pensar é alegria…

E se hoje percebi que o pensar deu mais tristeza aos meus alunos…

É porque eles só sabem marchar, quais soldados em ordem unida…

Não! A partir de hoje vou ensiná-los a saltarem sobre o vazio…

E, sobretudo, a não terem medo da(s) queda(s)…

Não foi também assim que se construiu a ciência?

Não pela prudência dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham…

Ah! Todo o conhecimento começa com o sonho…

O conhecimento nada mais é do que a aventura pelo céu desconhecido…

Em busca da terra sonhada…

Mas sonhar é coisa que não se ensina…

Por isso, hoje, enquanto professor que ainda sou…

Só passarei a pedir uma coisa aos meus alunos:

«Contem-me os vossos sonhos, para que sonhemos juntos!»”


(Inédito)

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