('Post' da Internet)
“O
amor é um tema universal que desperta as mais variadas reflexões…
Mas…
O que, afinal, significa amar?
Sabemos
que amor é ‘algo’ automático e frequentemente inconsciente…
Que
o psicanalista chama transferência…
Pois,
amar alguém é acreditar que, ao amá-lo...
Se alcançará uma verdade sobre si mesmo…
Ama-se
aquele que conserva a resposta…
Ou
uma resposta, à famosa questão: «Quem sou eu?»
Mas
se o amor é universal…
Porque
alguns sabem amar e outros não?
Há
uns quantos que sabem provocar o amor no outro…
São
aqueles que sabem quais os botões a apertar para se fazer amar…
Porém,
não necessariamente amam...
Mais brincam ao gato e ao rato com as suas presas…
Para
amar é necessário confessar a sua falta…
E
reconhecer que se tem necessidade do outro… Que o outro lhe falta…
Ser
completo sozinho? Só quem não ama pode acreditar nisso…
Amar
é reconhecer a sua falta e doá-la ao outro… Colocá-la no outro…
Não
é dar o que se possui… É dar algo que não se possui...
Que vai além de si mesmo…
Para
isso, é preciso assegurar-se da sua falta… Da sua castração…
Só
se ama, pois, a partir de uma posição feminina…
Sim,
amar feminiza!
É
por isso que muitos homens se acham ridículos quando amam…
Porém,
se eles se deixarem intimidar pelo ridículo…
É
porque, na realidade, não estão seguros da sua virilidade….
Por
isso, entendam mulheres…
É muito
mais difícil amar para um homem!
O
homem enamorado tem retornos de orgulho…
Assaltos
de agressividade contra o objeto do seu amor…
Porque
esse amor o coloca na posição de incompletude… De dependência…
É
por isso que pode desejar as mulheres que não ama…
A
fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama…
Freud
denominou isso a «degradação da vida amorosa» no homem…
Ou
seja, a separação do amor e do desejo sexual…
Já na
mulher é diferente…
Quanto
muito, acontece o desdobramento do parceiro masculino…
De
um lado, está o amante que a faz gozar e que ela deseja…
Porém,
há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado…
Mas
que fique claro, não é a anatomia que comanda…
Pois,
há mulheres que adotam uma posição masculina…
Um
homem para o amor, em casa…
E
homens para o gozo, encontrados no trabalho, na internet, na rua…
É
que os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade...
Estão em
plena mutação…
Os
homens são convidados a acolher as suas emoções, a amar, a se feminizar…
As
mulheres conhecem, ao contrário, um certo ‘fazer-se-homem’…
Daí,
cada vez mais, assistirmos a uma grande instabilidade dos papéis…
Uma
fluidez generalizada do teatro do amor…
Que
contrasta com a rigidez de antigamente…
Tal
como afirmou Bauman, o amor tornou-se líquido…
Cada
um é levado a inventar o seu próprio ‘estilo de vida’…
E a
assumir o seu modo de ter prazer e de amar…
A
tradição caiu em lento desuso…
Ah!
Mas importante é que o amor é um vai e vem…
O
que não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele nos ame…
O amor
é recíproco porque o amor que se nutre pelo outro…
É
efeito do retorno da causa do amor que o outro é para nós...
Portanto,
o nosso amor pelo outro não é só assunto nosso, mas dele também…
E a ‘alma
gémea’, aquele ‘ser especial’, existe isso?
Existe
a condição do amor, a causa do desejo…
É como
um traço particular que tem para cada um...
Função determinante na escolha amorosa…
E é
próprio de cada um, tem a ver com a história singular e íntima de cada um...
Percebam…
A
realidade do inconsciente ultrapassa a ficção…
A vida
humana, e especialmente o amor, é composta por milhões de ‘divinos detalhes’…
É
verdade que, sobretudo no homem, encontram-se tais causas do desejo…
Sim,
o que chamamos fetiches...
Cuja presença é indispensável para desencadear o
processo amoroso…
As subtis
particularidades…
Que
relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, a tal personagem da infância…
E
que também têm o seu papel na escolha amorosa das mulheres…
Porém,
a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotómana que fetichista…
A
mulher quer ser amada…
E o
interesse, o amor que alguém lhes manifesta…
Ou
que elas supõem no outro…
É
sempre uma condição ‘sine qua non’ para desencadear o seu amor…
Ou,
pelo menos, para ela dar o seu consentimento…
É
aqui que assenta o fenómeno da corte masculina…
E por
isso, serem tão importante as fantasias…
Nas
mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes…
São
mais determinantes para a posição de prazer do que para a escolha amorosa…
E é
o inverso para os homens…
Quanta
mulher só consegue obter o orgasmo…
Com
a condição de se imaginar, durante o próprio ato…
Sendo
batida, violada, ou de ser uma outra mulher…
Ou
ainda de estar ausente, noutro lugar…
Já o
homem tem outra fantasia…
É
como amor à primeira vista…
Sobressai,
de imediato, a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor…
Ou reencontra
nela os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos…
Freud
também falou sobre isso…
O homem ama a pessoa que protege, por exemplo a
mãe…
Ou a
uma imagem narcísica dele mesmo…
É… O
amor tem mesmo muito que se lhe diga…
Entre
o homem e a mulher nada está escrito por antecipação…
Não
há bússola, nem proporção pré-estabelecida…
O encontro
não é programado como o do espermatozoide e do óvulo…
Os
homens e as mulheres falam, vivem num mundo de discurso…
E isso
é determinante!
As
modalidades do amor são ultrassensíveis à cultura ambiente…
Cada
civilização distingue-se pela maneira como estrutura a relação entre os sexos…
Hoje
o ‘múltiplo’ parece ter destronado o ‘um'...
O grande
amor de toda a vida cedeu, pouco a pouco, terreno…
Para
o ‘speed dating’ e toda a variedade de cenários amorosos alternativos…
Sucessivos,
inclusive simultâneos… Sim, o ‘poli-amor’…
Com
toda esta complexidade… Será, ainda o amor eterno?
Dizia
Balzac: «Toda a paixão que não se acredita eterna é repugnante»…
De
novo, dizem os analistas… Sim, os da psique humana…
Quanto
mais um homem se consagra a uma só mulher…
Mais
ela tende a ter para ele uma significação maternal…
Quanto
mais sublime e intocada, mais amada…
E
quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra…
Portanto,
o caminho é estreito…
Talvez
o melhor caminho do amor conjugal seja a amizade, como dizia Aristóteles…
O
problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres…
E as
mulheres, o que os homens esperam delas…
Aqui
a objeção, é que o diálogo de um sexo com o outro é impossível…
Os
amantes estão, de facto, condenados a aprender a língua um do
outro…
Tateando,
buscando as chaves, sempre revogáveis…
Amigo,
caro leitor… Apaixonado… Ou não…
É
melhor não pensar muito…
É
que o amor é um labirinto de mal-entendidos onde a saída não existe!
Então…
Não pense muito…
Simplesmente…
Ame…
Ame
intensamente… Como se não houvesse amanhã!”
(Inédito)