A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

20 setembro 2022

AMOR NO SOFÁ... DO PSICANALISTA...

 

                                     ('Post' da Internet)


“O amor é um tema universal que desperta as mais variadas reflexões…

Mas… O que, afinal, significa amar?

Sabemos que amor é ‘algo’ automático e frequentemente inconsciente…

Que o psicanalista chama transferência…

Pois, amar alguém é acreditar que, ao amá-lo...

Se alcançará uma verdade sobre si mesmo…

Ama-se aquele que conserva a resposta…

Ou uma resposta, à famosa questão: «Quem sou eu?»

Mas se o amor é universal…

Porque alguns sabem amar e outros não?

Há uns quantos que sabem provocar o amor no outro…

São aqueles que sabem quais os botões a apertar para se fazer amar…

Porém, não necessariamente amam...

Mais brincam ao gato e ao rato com as suas presas…

Para amar é necessário confessar a sua falta…

E reconhecer que se tem necessidade do outro… Que o outro lhe falta…

Ser completo sozinho? Só quem não ama pode acreditar nisso…

Amar é reconhecer a sua falta e doá-la ao outro… Colocá-la no outro…

Não é dar o que se possui… É dar algo que não se possui...

Que vai além de si mesmo…

Para isso, é preciso assegurar-se da sua falta… Da sua castração…

Só se ama, pois, a partir de uma posição feminina…

Sim, amar feminiza!

É por isso que muitos homens se acham ridículos quando amam…

Porém, se eles se deixarem intimidar pelo ridículo…

É porque, na realidade, não estão seguros da sua virilidade….

Por isso, entendam mulheres…

É muito mais difícil amar para um homem!

O homem enamorado tem retornos de orgulho…

Assaltos de agressividade contra o objeto do seu amor…

Porque esse amor o coloca na posição de incompletude… De dependência…

É por isso que pode desejar as mulheres que não ama…

A fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama…

Freud denominou isso a «degradação da vida amorosa» no homem…

Ou seja, a separação do amor e do desejo sexual…

Já na mulher é diferente…

Quanto muito, acontece o desdobramento do parceiro masculino…

De um lado, está o amante que a faz gozar e que ela deseja…

Porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado…

Mas que fique claro, não é a anatomia que comanda…

Pois, há mulheres que adotam uma posição masculina…

Um homem para o amor, em casa…

E homens para o gozo, encontrados no trabalho, na internet, na rua…

É que os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade...

Estão em plena mutação…

Os homens são convidados a acolher as suas emoções, a amar, a se feminizar…

As mulheres conhecem, ao contrário, um certo ‘fazer-se-homem’…

Daí, cada vez mais, assistirmos a uma grande instabilidade dos papéis…

Uma fluidez generalizada do teatro do amor…

Que contrasta com a rigidez de antigamente…

Tal como afirmou Bauman, o amor tornou-se líquido…

Cada um é levado a inventar o seu próprio ‘estilo de vida’…

E a assumir o seu modo de ter prazer e de amar…

A tradição caiu em lento desuso…

Ah! Mas importante é que o amor é um vai e vem…

O que não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele nos ame…

O amor é recíproco porque o amor que se nutre pelo outro…

É efeito do retorno da causa do amor que o outro é para nós...

Portanto, o nosso amor pelo outro não é só assunto nosso, mas dele também…

E a ‘alma gémea’, aquele ‘ser especial’, existe isso?

Existe a condição do amor, a causa do desejo…

É como um traço particular que tem para cada um...

Função determinante na escolha amorosa…

E é próprio de cada um, tem a ver com a história singular e íntima de cada um...

Percebam…

A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção…

A vida humana, e especialmente o amor, é composta por milhões de ‘divinos detalhes’…

É verdade que, sobretudo no homem, encontram-se tais causas do desejo…

Sim, o que chamamos fetiches...

Cuja presença é indispensável para desencadear o processo amoroso…

As subtis particularidades…

Que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, a tal personagem da infância…

E que também têm o seu papel na escolha amorosa das mulheres…

Porém, a forma feminina do amor é, de preferência, mais erotómana que fetichista…

A mulher quer ser amada…

E o interesse, o amor que alguém lhes manifesta…

Ou que elas supõem no outro…

É sempre uma condição ‘sine qua non’ para desencadear o seu amor…

Ou, pelo menos, para ela dar o seu consentimento…

É aqui que assenta o fenómeno da corte masculina…

E por isso, serem tão importante as fantasias…

Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes…

São mais determinantes para a posição de prazer do que para a escolha amorosa…

E é o inverso para os homens…

Quanta mulher só consegue obter o orgasmo…

Com a condição de se imaginar, durante o próprio ato…

Sendo batida, violada, ou de ser uma outra mulher…

Ou ainda de estar ausente, noutro lugar…

Já o homem tem outra fantasia…

É como amor à primeira vista…

Sobressai, de imediato, a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor…

Ou reencontra nela os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos…

Freud também falou sobre isso…

 O homem ama a pessoa que protege, por exemplo a mãe…

Ou a uma imagem narcísica dele mesmo…

É… O amor tem mesmo muito que se lhe diga…

Entre o homem e a mulher nada está escrito por antecipação…

Não há bússola, nem proporção pré-estabelecida…

O encontro não é programado como o do espermatozoide e do óvulo…

Os homens e as mulheres falam, vivem num mundo de discurso…

E isso é determinante!

As modalidades do amor são ultrassensíveis à cultura ambiente…

Cada civilização distingue-se pela maneira como estrutura a relação entre os sexos…

Hoje o ‘múltiplo’ parece ter destronado o ‘um'...

O grande amor de toda a vida cedeu, pouco a pouco, terreno…

Para o ‘speed dating’ e toda a variedade de cenários amorosos alternativos…

Sucessivos, inclusive simultâneos… Sim, o ‘poli-amor’…

Com toda esta complexidade… Será, ainda o amor eterno?

Dizia Balzac: «Toda a paixão que não se acredita eterna é repugnante»…

De novo, dizem os analistas… Sim, os da psique humana…

Quanto mais um homem se consagra a uma só mulher…

Mais ela tende a ter para ele uma significação maternal…

Quanto mais sublime e intocada, mais amada…

E quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra…

Portanto, o caminho é estreito…

Talvez o melhor caminho do amor conjugal seja a amizade, como dizia Aristóteles…

O problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres…

E as mulheres, o que os homens esperam delas…

Aqui a objeção, é que o diálogo de um sexo com o outro é impossível…

Os amantes estão, de facto, condenados a aprender a língua um do outro…

Tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis…

Amigo, caro leitor… Apaixonado… Ou não…

É melhor não pensar muito…

É que o amor é um labirinto de mal-entendidos onde a saída não existe!

Então… Não pense muito…

Simplesmente… Ame…

Ame intensamente… Como se não houvesse amanhã!”


(Inédito)

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