“No
tempo da fotografia em papel as pessoas pareciam fantasmas…
Sim,
algo de fantasmagórico acontecia…
Enquanto
aguardávamos pela revelação do papel fotográfico…
O que
não aparecia antes, com a espera aparecia…
Infelizmente,
isso acabou com a chegada da fotografia digital…
A fotografia
tornou-se, pois, em mais um imediatismo…
Hoje,
disparamos e vemos!
O
tempo de espera pela revelação perdeu-se…
Assim
como um lapso em que outras coisas podiam acontecer…
Hoje
no mundo do ‘fast-tudo’, esperar tornou-se num grande aborrecimento…
E mesmo
o ‘non fare niente’ tornou-se num anátema…
Um
suposto estado de imbecilidade improdutiva para a sociedade do ‘já’…
Mas
essa aceleração não deteve o sofrimento da espera…
Pelo
contrário, a Internet tornou-nos todos mais impulsivos e impacientes…
Podemos
reduzir e tornar mais intensos os intervalos…
Mas
eles continuam aí, com a obsessão de usá-los para algo produtivo…
Enquanto
eliminar os tempos de espera deixa-nos menos tempo para pensar…
E conectar-nos
connosco mesmos…
E
depois… Pensem…
Não
será a própria vida uma longa espera para morrermos?
A
vida é algo que acontece entre dois momentos de vazio…
O
antes de… E o depois de…
Que
haja um princípio, um fim e uma direção que lhe dê sentido…
É,
de facto um paradoxo existencial!
Não
há, pois, como suportar a espera…
É o
que Kafka chamou «hesitação antes do nascimento»…
Trata-se,
portanto, de entender toda a espera como um tempo concedido e não perdido…
E que
parte do encanto e da razão de ser desta viagem a que chamamos viver…
Consiste
em que alguém espere e se aperceba da nossa ausência…
E
depois… Na espera tudo pode acontecer…
E se
eliminamos a possibilidade de que possam ocorrer coisas…
No
fundo perdemos liberdade…
Talvez
por isso, hoje se fale muito sobre o tempo, mas pouco sobre a espera…
Ou talvez…
O propósito da espera seja fazer com que a pessoa converse com ela mesma…
E
isso dá medo a muita gente!”
(Inédito)
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