A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

16 outubro 2022

PERMANECER... OU SAIR DA CAVERNA?

 

                                                                                                                 (Fotografia da Internet)


“Permanecer ou sair da caverna?

Eis uma questão transversal à humanidade…

É melhor desfrutar de uma realidade fantasiosa, mas confortável…

Ou vivenciar a verdade com toda a sua dureza?

É verdade… Viver como sujeito consciente tem elevados custos a todos os níveis…

Talvez por isso, já no próprio mito da caverna platoniano…

Os homens preferiam contentar-se com as sombras…

Ao invés de enfrentarem o lado de fora… A realidade!

Afinal, por mais falsa que as sombras sejam…

Elas estão sob a proteção constante das paredes rochosas da caverna…

O que significa que ao decidir sair, não há retorno…

Pois as rochas, que o olhar do escravo entende como de proteção…

Para os que despertam, representam uma prisão…

O desconhecido magnetiza o Homem através medo….

Por isso, muitos de nós, na maior parte das vezes, preferimos permanecer onde estamos…

Escolhemos continuar no velho, face ao benefício do conhecido e da permanência…

 Do que enfrentar o temido novo, o qual ainda não conhecemos…

E não sabemos o que nos poderá trazer…

Ou seja…

Ainda que a situação que vivenciamos seja adversa…

Tendemos ao comodismo pelo medo do que ainda não conhecemos…

E, portanto, pode ser pior do que o já vivenciado…

Mas, a gravidade da questão…

É que este comodismo ou complacência...

Não se restringe apenas ao medo do desconhecido…

Mas também à própria falta de vontade em esforçar-nos...

Para que a condição seja modificada…

O que é que esta atitude perniciosa nos levou?

Vivemos hoje numa era de servidão voluntária!

E como referiu Baudrillard:

«A servidão voluntária transformou-se no admirável mundo novo»…

Lugar em que a técnica e a ciência consegue suprir todas as necessidades humanas…

Sim, é um facto…

As revoluções técnicas e científicas que aconteceram...

Trouxeram-nos importantes conquistas…

Descobertas e aperfeiçoamentos que tornaram a nossa vida melhor em muitos aspetos…

Contudo, a história mostra-nos que entre a real capacidade dessas revoluções…

E o que dela se extrai há um grande abismo…

A nossa realidade de hoje aproxima-se, assim...

Muito mais das grandes distopias do século XX…

Do que à de um éden de terceira dimensão…

E, como se isso não bastasse…

Ainda que esta realidade esteja mais do que clara…

Em vez de a questionarmos, ela fortalece-se cada vez mais…

O Homem parece que prefere ser administrado…

E saber que as suas necessidades básicas são satisfeitas…

Tornou-se, afinal, num animal consumista…

Importa é sentir-se confortável e ser bem atendido…

Desde que o consumo (suporte da satisfação e do controle)...

Esteja sempre ao alcance das mãos…

Aliás, nem convém que ele saia do lugar para entrar na roda da felicidade do consumo…

E como estamos perante uma sociedade de controle…

Não é preciso dizer...

Que existe uma dura repressão para todos os que fogem à ordem imposta…

Os quais são vistos como ‘inadequados’ como dizia Huxley…

E aqui atente-se…

Como todo o bom sistema que evolui…

A repressão não ocorre de modo explícito ou através de chicote…

Mas antes, de maneira ‘invisível’, a partir da ‘liberdade’ que gozamos…

É que a repressão mais perfeita é aquela que não precisa acontecer…

Pois é assumida pelo próprio indivíduo em si mesmo...

Diante de tantas condições favoráveis à escravidão...

E dissociadas, portanto, da liberdade…

Torna-se fácil compreender o porquê da maior parte de nós...

Preferir continuar na caverna…

E tomar o ilusório como real…

Da mesma maneira que se compreende o motivo de sermos agentes repressivos…

Contra os que fogem do sistema, sejam os outros, sejamos nós mesmos…

O que implica dizer que glorificamos a mentira…

E tomamos por impostores os que se dedicam à verdade…

Afinal, como disse Orwell:

«Quanto mais a sociedade se distancia da verdade...

Mais ela odeia aqueles que a revelam»…

Posto isso, ao aceitarmos o modo como a sociedade se organiza e todos os seus ditames…

Automaticamente decidimos permanecer na caverna…

E contribuir para a manutenção de um sistema de organização política e social…

O qual por trás da alegria e satisfação...

Esconde a exploração, a desigualdade e a ignorância…

Mas, apesar de não haver condições próprias…

Para que haja um despertar do indivíduo da sua situação de ignorância…

É cada vez mais premente que se entenda que o modo hierárquico da sociedade…

Não se modificará de cima para baixo…

É antes necessário a cada um de nós, dentro das suas oportunidades…

Tentar encontrar pontos de luz que nos ajudem a encontrar a saída da ignorância…

E, por conseguinte, da nossa condição cada vez mais escravizante…

Se o desconhecido magnetiza pelo medo…

É apenas o conhecimento e a liberdade que nos permitirão enfrentá-lo…

Sabendo que todo aquele que desperta…

Sempre apontará para as correntes daqueles que permanecem presos…

Mas… Ainda assim, tenhamos também em mente…

Que muitos, por mais oportunidades que recebam…

Irão sempre preferir permanecer na sua ignorância, na caverna…

Ou seja, no oposto da liberdade…

Pois é sempre mais cómodo assumir o lugar de espetador…

Assim sendo, levantar do sofá, ser um lutador…

Não será um ato a observar pelo Homem de hoje…

Pois como disse Nietzsche:

«Por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade…

Porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas»…

A liberdade esfuma-se, pois, a passos largos…

O medo da verdade parece estar a vencer…

A ignorância ganha força…

 O Homem continua na caverna…”


(Inédito)

Sem comentários: