“Rezas
e orações são coisas de padres e gurus espiritualistas…
Mas…
E as pessoas comuns, porque oram?
Não
sabem que a alma deseja uma só coisa, cujo nome esquecemos…
Será
que as pessoas oram em busca desse nome esquecido?
Se
for lembrado e pronunciado com toda a paixão do corpo e da alma…
Eu
chamo a esse ato poesia…
Mas,
admito… A esse ato também podemos dar o nome de oração…
Mas
digo isto, porque orar tornou-se numa espécie de tagarelice…
Em
que falamos muito e escutamos pouco…
Muitas
palavras são ditas porque ainda não encontramos a única palavra que importa…
Temos
conhecimento das palavras, mas ignoramos a Palavra…
E uma
das palavras (ou talvez a única) que deveria preencher o léxico oratório é Amor!
É
que para além das necessidades vitais básicas, a alma precisa de Amor…
Ou
não estivesse o Amor em todos os lugares…
Na
lua, na rua, nas constelações, nas estações, no mar, no ar…
E além
do Amor estão as sensações que moram nos olhos…
Nos
ouvidos, no nariz, na boca, na pele…
Mas…
É verdade… A vida pesa…
Caminha-se
com dificuldade…
O
corpo arrasta-se…
E,
por isso, as pessoas oram porque lhes falta algo…
E
procuram, nessa ausência, a única coisa que importa: a Felicidade!
Acontece
que a Felicidade não pode ser encontrada no mundo de fora…
A Fonte
da Felicidade encontra-se no mundo de dentro…
O
mundo de dentro a que alguns dão o nome de alma…
Mas
para tal, temos de ultrapassar essa fronteira que é o nosso corpo…
Sim,
o corpo é a fronteira entre o mundo de fora e o mundo de dentro…
E eles
são completamente diferentes…
Será
que em algum lugar escondido da alma se encontra a Fonte da Felicidade?
Talvez
esteja por lá perdida…
E talvez,
por isso, também o mundo interior se apague…
E o corpo
fica como uma casa vazia…
E
quando a casa está vazia, vai-se a Felicidade…
E
depois…
O
mundo de fora é como um mercado onde vivemos como pássaros engaiolados…
E
pássaros engaiolados, por mais belos que sejam, não podem ser felizes…
Não!
A alma não sobrevive em gaiolas…
O
que deveríamos então fazer, é quebrar todas as gaiolas e vivermos livres… Em
amor…
E
aqui sim, entra o ato de orar…
Orar
para invocarmos a Felicidade…
Por
isso vos disse que para mim orações e poemas são a mesma coisa…
Palavras
que se pronunciam a partir do silêncio, pedindo que o silêncio nos fale…
Como
dizia Ricardo Reis:
- «É
no silêncio que existe no intervalo das palavras que se ouve a voz…
De um
Ser qualquer, alheio a nós que nos fala…»
O
nome do Ser? Não importa!
Todos
os nomes são metáforas para o grande mistério inominável que nos envolve…
Pois…
Gosto de poesia… E de orar…
Porque
ambas expressam as palavras que eu gostaria de ter dito, mas nunca consegui…
Ler…
Escrever… Orar… São, pois, a música no meu silêncio…
E,
também… Uma outra forma de amar…”
(Inédito)
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