A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

31 outubro 2022

O ÚNICO LIVRO QUE EU LEVARIA PARA LER NUMA ILHA DESERTA…

 

                                                                       (Fotografia da Internet)


“Não sei se algum de vós já terá reparado nisso…

Mas o Dicionário é um dos livros mais poéticos que existe…

Se não mesmo o mais poético dos livros….

É que o Dicionário tem dentro de si o Universo completo…

E claro, inclui o universo lexical humano…

Logo que uma noção humana toma forma de palavra, vai habitar o Dicionário…

E todas as palavras se vão arrumando, não pela ordem de chegada…

Mas por ordem alfabética, ou não fosse uma lista de ‘noções’ importantes…

O Dicionário é, pois, um livro muito democrático…

Ali, o que governa é a autoridade das letras…

E depois…

O Dicionário responde a todas as curiosidades…

O Dicionário explica a alma dos vocábulos…

A sua hereditariedade e as suas mutações...

E as surpresas de palavras que nunca se tinham visto nem ouvido...

Tudo isto poderemos encontrar num simples dicionário…

A questão intrigante para mim é:

Porque não ensinam as crianças a ler o Dicionário?

Afinal, ele contém todos os géneros literários…

Pois cada palavra tem o seu halo e o seu destino…

Umas vão para as aventuras, outras para as viagens, outras para as novelas…

Outras para a poesia, umas para a história, outras para o teatro…

E como o bom uso das palavras e o bom uso do pensamento são uma coisa só…

Conhecer o sentido de cada uma é conduzir-se entre claridades…

É construir mundos tendo como laboratório o Dicionário…

Onde jazem, catalogados, todos os necessários elementos...

Todos conhecem a pergunta famosa universalmente repetida:

«Que livro escolherias para levar contigo, se tivesses de partir para uma ilha deserta?»

Os que nunca tiveram tempo para fazer grandes leituras…

Pensariam, talvez, em levar obras de muitos volumes…

É certo que numa ilha deserta é preciso encher o tempo…

Mas, eu levaria o Dicionário para a ilha deserta!

E aí, o tempo passaria docemente…

Enquanto eu passeasse por entre nomes conhecidos e desconhecidos…

Nomes, pensamentos e sementes…

E com eles cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses...

E ventura suprema dos homens…”


(In "Crónicas Mundanas...")

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