A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

06 setembro 2022

O OVO... OU A GALINHA...

 

                                                                                 ('Post' da internet)

“O ovo não tem um si-mesmo…

Individualmente ele não existe…

Só quem vê o mundo, vê o ovo…

Pois, como o mundo, o ovo é óbvio…

Apesar disso...

Eu cá, tomo o maior cuidado em não entendê-lo…

Creio até, que é impossível entendê-lo…

Se o entendermos é porque estamos equivocados…

É que entender é a prova do erro…

Entendê-lo não é, pois, o modo de vê-lo…

O que não sabemos do ovo é o que realmente importa…

O que não sabemos do ovo dá-nos o ovo propriamente dito…

Quem se aprofunda num ovo…

Quem vê mais do que a superfície do ovo…

É porque quer outra coisa: está com fome…

E depois…

O ovo é a alma da galinha…

Para que o ovo atravesse os tempos a galinha precisa existir…

E com o tempo, o ovo tornou-se um ovo de galinha…

Mas, note-se:

Deve-se dizer «o ovo da galinha»…

Se se disser apenas «o ovo», esgota-se o assunto…

Mas… E a galinha?

O ovo é o grande sacrifício da galinha…

O ovo é a cruz que a galinha carrega na vida…

O ovo é o sonho inatingível da galinha…

Ser uma galinha é a sobrevivência da galinha…

Pois, sobreviver é a salvação…

Então, o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo…

E desse modo, a galinha luta contra a vida que é mortal…

Ser uma galinha é isso…

Mas é necessário que a galinha não saiba que tem um ovo…

Senão ela se salvaria como galinha, mas perderia o ovo…

Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe…

Quanto à questão primordial…

Quem veio primeiro…

Simples, foi o ovo que encontrou a galinha…

A galinha é apenas uma escolhida…

A galinha vive como num sonho…

Não tem senso da realidade…

O mal desconhecido da galinha é o ovo….

Ela não sabe explicar-se…

Sabe que o erro está em si mesma…

Por isso ela chama de erro à sua vida…

E prefere cacarejar o dia inteiro…

Comecei a falar da galinha e já falei de mais da galinha…

Mas ainda estou a falar do ovo…

E percebo que não entendo o ovo…

Só entendo de ovo quebrado: quebro-o na frigideira…

É deste modo indireto que me confronto com a existência do ovo…

E… Quando pegamos num ovo e quebramos a casca e a forma…

A partir deste instante exato o ovo deixa de existir…”


(Inédito)

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