“O
ovo não tem um si-mesmo…
Individualmente
ele não existe…
Só
quem vê o mundo, vê o ovo…
Pois,
como o mundo, o ovo é óbvio…
Apesar
disso...
Eu
cá, tomo o maior cuidado em não entendê-lo…
Creio
até, que é impossível entendê-lo…
Se o
entendermos é porque estamos equivocados…
É
que entender é a prova do erro…
Entendê-lo
não é, pois, o modo de vê-lo…
O
que não sabemos do ovo é o que realmente importa…
O
que não sabemos do ovo dá-nos o ovo propriamente dito…
Quem
se aprofunda num ovo…
Quem
vê mais do que a superfície do ovo…
É
porque quer outra coisa: está com fome…
E
depois…
O ovo
é a alma da galinha…
Para
que o ovo atravesse os tempos a galinha precisa existir…
E com
o tempo, o ovo tornou-se um ovo de galinha…
Mas,
note-se:
Deve-se
dizer «o ovo da galinha»…
Se
se disser apenas «o ovo», esgota-se o assunto…
Mas…
E a galinha?
O
ovo é o grande sacrifício da galinha…
O
ovo é a cruz que a galinha carrega na vida…
O ovo
é o sonho inatingível da galinha…
Ser
uma galinha é a sobrevivência da galinha…
Pois,
sobreviver é a salvação…
Então,
o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo…
E
desse modo, a galinha luta contra a vida que é mortal…
Ser
uma galinha é isso…
Mas
é necessário que a galinha não saiba que tem um ovo…
Senão
ela se salvaria como galinha, mas perderia o ovo…
Para
que o ovo use a galinha é que a galinha existe…
Quanto
à questão primordial…
Quem
veio primeiro…
Simples,
foi o ovo que encontrou a galinha…
A
galinha é apenas uma escolhida…
A
galinha vive como num sonho…
Não
tem senso da realidade…
O
mal desconhecido da galinha é o ovo….
Ela
não sabe explicar-se…
Sabe
que o erro está em si mesma…
Por
isso ela chama de erro à sua vida…
E
prefere cacarejar o dia inteiro…
Comecei
a falar da galinha e já falei de mais da galinha…
Mas
ainda estou a falar do ovo…
E percebo
que não entendo o ovo…
Só
entendo de ovo quebrado: quebro-o na frigideira…
É
deste modo indireto que me confronto com a existência do ovo…
E… Quando
pegamos num ovo e quebramos a casca e a forma…
A partir
deste instante exato o ovo deixa de existir…”
(Inédito)
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