“Para
muitos envelhecer é um tormento…
É
que o tempo não se detém e o seu maior pavor é perder o bem supremo…
Odeiam
pensar que estão a ficar velhos…
E aos
poucos vão sendo devorados por dentro também…
Não
perceberam…
Que
se congelarmos o tempo e nos encerrarmos nesse casulo…
Estaremos
liquidados antes mesmo que a juventude acabe…
Seremos
a nossa própria ficção….
Mas
a realidade continuará à nossa volta…
E um
dia acabarão por descobrir que estão fora dela…
Não!
Se quisermos viver, não vegetar na prateleira das nossas fantasias…
Teremos
de encontrar nessa aflição o que restou da nossa personalidade…
Pois ela é quem vai nos dar mais consistência...
E capacidade de crescer até o último raio
de lucidez…
Só assim
se pode ter algum controle, não sobre o tempo…
Mas
sobre o quanto ele vai nos favorecer ou aniquilar…
Envelhecer
não é decadência, mas transformação…
E,
simplesmente, temos de nos preparar para isso…
Dispostos
a encarar a existência como um todo…
Com
diversos estágios, variadas formas de beleza e até de felicidade…
E… Com muita paciência…
Pois, isso tem de ser conquistado passo a passo…
Existir
no tempo foi-nos mostrado como uma corrida infausta...
Cada
dia uma perda, cada ano um atraso…
E
por imaginarmos que as nossas últimas décadas são apenas decadência…
Reforçamos
o tabu que reveste essa palavra….Velhice… Envelhecer…
Palavras
significam emoções e conceitos, portanto preconceitos…
Detestamos
ou tememos a velhice pela sua marca de incapacidade e isolamento…
É
algo a ser evitado como uma doença…
Não
deixa de ser tolo encarar o tempo como um conjunto de gavetas compartimentadas…
Nas
quais somos jovens, maduros ou velhos…
Porém
só uma delas, a da juventude, tem direito a alegrias e realizações…
Não,
nada disso! Adquirir sabedoria e um sensato otimismo…
São
coisas que só podem melhorar com o correr dos anos…
Mas predomina a ideia de que a velhice é uma sentença...
Da qual se deve fugir a
qualquer custo…
E
muitos preferem dizer que são velhos na idade, mas ‘jovens de espírito’…
Porque
ser ‘jovem de espírito’ é melhor do que ter um «espírito maduro’ ou velho?
Não é
fantástico ter mais sabedoria, mais serenidade…
Mais
elegância diante de factos que na juventude nos fariam arrancar os cabelos?
Ah!
O ‘espírito maduro’ é bem mais interessante do que o jovem…
Mais
sereno, mais misterioso, mais sedutor…
E
depois… A vida é sempre a nossa vida…
Seja
aos dez anos, aos trinta anos, ou aos setenta…
Dela
podemos fazer sempre alguma coisa mesmo quando nos dizem que não…
E só seremos velhos...
Se acharmos que merecemos menos de tudo que ainda é possível
obter…
Então,
porque não optarmos antes…
Por
nos apaixonarmos pelo processo de envelhecer…
Tornando-nos,
a cada dia, na nossa melhor versão…”
(Inédito)
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