A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

08 setembro 2022

CHEIO... OU VAZIO...

 

                                                                                                              (Fotografia da internet)


“O que é mais valioso:

O cheio ou o vazio?

Muitos já se questionarão:

- Mas que pergunta sem sentido!

E dirão: Todos sabemos que o cheio vale mais que o vazio…

Tanto assim, que o cheio custa dinheiro…

Enquanto o vazio não custa nada…

Ninguém compra o vazio…

Parece, pois, óbvio que o cheio vale mais que o vazio…

Mas será mesmo assim?

Todos nós precisamos de beber…

Mas se quisermos encher o copo, é preciso que o copo esteja vazio…

Sabemos também que os pulmões parecem uma esponja…

São cheios de buraquinhos vazios…

Mas, os buraquinhos têm de estar vazios para que o ar entre neles…

Um pulmão cheio não deixa respirar…

E a nossa casa? Não é também ela um vazio cercado de paredes…

Para isso servem as paredes:

- Para permitir que o vazio seja usado…

Os arquitetos são os artistas que sabem a arte de criar vazios através de paredes...

E as janelas? Também são vazios… Buracos…

Já imaginaram uma casa sem janelas?

A ausência de janelas não faz bem nem aos sentimentos, nem aos pensamentos…

É o vazio entre os nossos olhos e a natureza que nos permite ver a natureza…

É o vazio chamado silêncio que nos permite ouvir a música…

Questionais-me: Porque valorizas tanto o vazio?

 É que para mim, a natureza é o lugar onde o vazio é grande…

A cidade é o lugar onde o vazio é pequeno…

Na cidade olhamos para fora e os olhos logo batem num edifício…

Na cidade as nossas vistas são curtas…

Na natureza, porque o vazio é grande, os olhos veem longe, muito longe:

Os campos, as florestas, as montanhas no horizonte, as estrelas…

Ah! Quando o vazio é grande o mundo cresce…

E na natureza, porque o vazio é grande, a liberdade é grande também…

E depois… O vazio é um bom lugar para brincar…

Se não fosse o vazio do céu, como é que poderíamos lançar um papagaio?

E não é preciso ter cuidado com o trânsito para não sermos atropelados…

No vazio as crianças são mais livres, brincalhonas…

Ah! Mas aquele vazio que eu mais adoro…

É o vazio chamado silêncio…

Silêncio é quando não há ruídos e barulhos…

Na cidade não há o vazio do silêncio…

O ruído ofende os ouvidos….

O que restará da vida se um homem não puder escutar o choro solitário de um pássaro…

Ou o coaxar dos sapos à volta de uma lagoa, à noite…

Já ouviram, por acaso, os sons das folhas das árvores sacudidas pelo vento?

Já ouviram o canto de um pintassilgo no meio da floresta?

E o zumbido das abelhas em busca de flores?

Eu não tenho dúvidas: a vida precisa do vazio!

 Até a lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta…

Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito…

Pois, parece que a maioria das pessoas acham o contrário…

Entendem que o bom é ser cheio…

Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e falam sem parar…

Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar…

Essas estão cheias de vazio…

E é no vazio da distância que vive a saudade…

Por isso, repito: a natureza é onde o vazio é grande…

O vazio grande da natureza, com os seus espaços e silêncios…

 De onde saímos e para onde haveremos de voltar…

A cidade é o cheio…

A natureza é o vazio….

Ah! Como eu tenho saudades do vazio da natureza…"


(Inédito)

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