A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

15 dezembro 2022

PRISIONEIRO… DE SONHOS TAMBÉM…

 

                                                                                                                   (Fotografia da Internet)


“Sim… Estou velho…

Não pela minha idade…

Mas não fiquei assim repentinamente…

Da noite para o dia…

Como sucede aos Homens angustiados...

São anos... Toda uma vida... De cão!

Conseguem perceber, pois, este meu olhar cabisbaixo, sim triste?

E sabem, ao menos, porquê?

De facto, é porque estou mesmo triste!

Mas estou lúcido!

Ah! Claro, um pouco anquilosado por uma vil corrente que me rouba o viver…

Que me impõem as limitações de um calabouço eterno…

Casota?

Ah! Ah! Ah!

Não amigos, sou mesmo mais uma daquelas vítimas...

Para quem o ar livre e as esquinas estão mortas e sepultadas…

E estou nesta situação…

Acorrentado… Apenas esperando pela morte…

Apenas porque alguém fez de mim um prisioneiro…

Ignoro os meses, os dias e os anos…

Já nem sei porque os meus olhos se abrem…

Só se for para serem limpos pela poeira do tempo…

Mas não haverá por aí um Homem que me liberte?

Eu não farei quaisquer reivindicações… Prometo!

Não direi a ninguém porque estou aqui e como me trataram…

Ah! Pois… Não há nenhum…

Devo continuar a contentar-me… Com os meus cinco passos de liberdade…

Estar preso ou livre, afinal, dá no mesmo…

Pois, ainda que animal, aprendi a amar a desesperança…

E aprendi a sentir, como qualquer outro Ser o sentiria, estas grossas correntes…

E sentir... Como se também elas chorassem…

E como se fossem o meu próprio lar…

E depois… Estas correntes e eu tornámo-nos amigos…

É uma longa convivência mútua… Sabem?

Tornou-nos o que somos:

Prisioneiros… De sonhos também…

Sonhos… De que um dia…

Outros como nós não tenham jamais de ser amigos assim…” 


(In "Crónicas Mundanas...")

Sem comentários: