“Sim…
Estou velho…
Não
pela minha idade…
Mas
não fiquei assim repentinamente…
Da
noite para o dia…
Como
sucede aos Homens angustiados...
São
anos... Toda uma vida... De cão!
Conseguem
perceber, pois, este meu olhar cabisbaixo, sim triste?
E
sabem, ao menos, porquê?
De
facto, é porque estou mesmo triste!
Mas
estou lúcido!
Ah! Claro, um pouco anquilosado por uma vil corrente que me rouba o viver…
Que
me impõem as limitações de um calabouço eterno…
Casota?
Ah!
Ah! Ah!
Não
amigos, sou mesmo mais uma daquelas vítimas...
Para
quem o ar livre e as esquinas estão mortas e sepultadas…
E
estou nesta situação…
Acorrentado… Apenas esperando pela morte…
Apenas
porque alguém fez de mim um prisioneiro…
Ignoro
os meses, os dias e os anos…
Já
nem sei porque os meus olhos se abrem…
Só
se for para serem limpos pela poeira do tempo…
Mas
não haverá por aí um Homem que me liberte?
Eu
não farei quaisquer reivindicações… Prometo!
Não
direi a ninguém porque estou aqui e como me trataram…
Ah!
Pois… Não há nenhum…
Devo
continuar a contentar-me… Com os meus cinco passos de liberdade…
Estar
preso ou livre, afinal, dá no mesmo…
Pois,
ainda que animal, aprendi a amar a desesperança…
E
aprendi a sentir, como qualquer outro Ser o sentiria, estas grossas correntes…
E
sentir... Como se também elas chorassem…
E
como se fossem o meu próprio lar…
E
depois… Estas correntes e eu tornámo-nos amigos…
É
uma longa convivência mútua… Sabem?
Tornou-nos
o que somos:
Prisioneiros…
De sonhos também…
Sonhos…
De que um dia…
Outros
como nós não tenham jamais de ser amigos assim…”
(In "Crónicas Mundanas...")
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