“Uma
das maiores e mais generosas ‘coisas’ é a alma humana…
Ela
não tolera mais limites do que aqueles que são comuns à divindade…
A sua
pátria compreende o universo até aos confins mais distantes…
Além
disso, não tem duração…
Pois não existe tempo para os grandes
espíritos…
Não
há idade inalcançável ao pensamento…
Sim,
surgirá o dia em que se dividirá o que é humano e o que é divino…
E aí,
ela se religará à deidade…
Saindo
da espera da vida mortal para uma outra existência…
Afinal,
aquilo a que chamamos vida…
Não
foi mais do que o amadurecimento para um outro nascimento…
Ou
talvez apenas, uma outra ordem das coisas…
Desfrutemos,
pois, enquanto aqui jazemos, de tudo o que nos rodeia…
Pois,
estamos somente de passagem…
E a
natureza despoja tanto quem entra. quanto quem sai…
Mas,
atenção:
Nesta
passagem…
Não nos
é permitido levar mais do que temos…
Até o que trouxemos para a vida ao nascer aqui
deverá ser cá deixado…
Mas,
sejamos gratos…
Esse
dia que tememos como o último, será o do nosso nascimento para a eternidade…
Por
isso, não hesitemos, muito menos resistamos…
Não fomos
igualmente expulsos com grande força do corpo da nossa mãe?
E
depois de sairmos do aconchegante ventre materno…
Não
soprou um outro ar fresco sobre nós?
E tenros
e inexperientes, enfrentamos o estupor do desconhecido…
Porque
nos apegarmos, então, a esta vida como se fosse nossa?
Chegou a hora de nos livrarmos de tudo o que nos prende...
E que não é mais necessário…
Chegou
o dia dos segredos do universo nos serem revelados…
O dia em que o céu resplandecerá como um todo…
Então,
poderemos dizer que vivemos nas trevas…
Pois,
agora poderemos contemplar em plenitude a totalidade da luz…
Que até
aqui apenas espreitávamos pelas frestas dos nossos olhos…
Ah!
Agora há que manter os olhos bem abertos…
Para
que não percamos de vista a eternidade…”
(In "Crónicas Mundanas...")
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