A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

21 outubro 2022

O FUTURO COMEÇA HOJE!

 

                                                                                                                          ('Post' da Internet)


“Este é certamente um tempo bom para vivermos…

E para todos aqueles que querem investir na sua própria reconstrução…

Mas hoje vimos refletir um pouco sobre o futuro…

E sabemos de antemão que escolher o futuro como tema…

É enfrentar um universo de conflitos e de ambiguidades…

Porque o futuro apenas existe numa dimensão duvidosa…

Por vezes, ele desponta como se fosse um chão concreto…

Porém, na maior parte das vezes ele é frágil e nebuloso…

Como uma linha de horizonte que se desfaz quando nos aproximamos…

E é neste conflito entre a expetativa e a realidade…

Que é comum o sentimento de desapontamento…

Que nos faz pensar que, no passado, o futuro já foi melhor…

Na verdade, no momento atual e global…

Quem é que quer saber do futuro…

E parece recíproco, pois, o futuro também não quer saber de ninguém!

Estamos tão entretidos em sobreviver que nos consumimos no presente imediato…

Para uma grande maioria, o porvir tornou-se até um luxo…

Fazer planos para o futuro é uma ousadia que a grande maioria perdeu direito…

Como se não bastasse sermos exilados da atualidade…

Fomos expulsos do futuro!

Ah! O amanhã tornou-se demasiado longe…

E mais do que longínquo, tornou-se improvável…

Estamos, pois, perante mais um profundo alheamento generalizado…

Ou não passássemos nós de temporários viajantes do Tempo…

Mas existe uma outra dificuldade acrescida que nos impede de ver o futuro…

É que o tempo é entendido como uma entidade circular…

A ideia deste tempo esférico…

É uma categoria dos que vivem sob o domínio da oralidade…

Foi a escrita que introduziu a ideia de um tempo linear…

Para a oralidade, só existe o que se traduz em presença…

Só é real aquele com quem podemos falar…

E só o podemos fazer no presente, que é o tempo vivo e o tempo dos viventes…

Mas grande parte de nós, humanos, lida com categorias de tempo bem diferentes…

Para alguns, o futuro não só não tem nome como a sua nomeação é interdita…

Inclusive, para algumas línguas não há equivalente para o termo ‘futuro’…

 Talvez, apenas, um tempo por inaugurar…

A noção de futuro trabalha num território que é do domínio sagrado…

Antever o futuro é uma heresia, uma visita não autorizada…

Todavia, mudar de conceitos sobre o tempo leva tempo…

E quem fala de tempo fala da espera e da sua irmã gémea, a esperança…

Infelizmente foi-se generalizando no mundo uma atitude de descrença…

O acumular de crises convidam-nos a uma desistência da alma…

Todos os dias uma silenciosa mensagem subliminar sugere-nos que o futuro não existe…

Há que viver o dia-a-dia!

Reina a expetativa do depressa e muito…

Pagaremos mais tarde esta ilusão de grandeza e velocidade…

A vida nos dirá que o depressa sai caro e o muito só é muito para muito poucos…

Mas, talvez a questão que temos de colocar aqui seja esta:

Como pedir a um jovem de hoje que abdique do prazer do momento?

Antes havia um uma razão redentora…

Na forma de uma causa religiosa, ou de um discurso político…

Hoje essa razão de longo prazo está esbatida…

Necessitamos de reescrever uma narrativa nova…

De inventar um novo tempo que seja brilhante e sedutor…

E que dê sentido às escolhas de longa duração…

Que dê valor à esperança e à moralidade enquanto investimentos a longo prazo…

Necessitamos de ter a certeza de que vale a pena esperar sem receio…

Fiz parte de uma geração que só nos sentíamos existindo...

Enquanto habitantes do futuro…

Acreditávamos que esse sentimento épico fosse eterno…

Hoje domesticamos a nossa existência…

Numa letargia sem horizonte, nem brilho a que chamamos realidade…

Construímos um mundo que já não é nosso, mas que ainda não é do outro…

Acordamos desse sonho com a sensação de estranheza…

Estamos despertando para um mundo em que podemos e devemos ainda sonhar…

A diferença é que esse mundo já não nos inclui nos seus sonhos…

Somos, em simultâneo, do tempo da utopia e do tempo dos predadores…

Ah! Mas que belos tempos em que tínhamos pouco, mas acreditávamos muito…

Não éramos apenas jovens sonhadores…

Mas janelas abertas para a esperança…

E assim nos redimimos da nossa condição precária…

E nos salvávamos da miséria maior que é ser-se invisual para o destino…

E através da esperança ganhámos acesso ao mundo e ao futuro…

Ainda que também tenhamos sido catapultados…

Para fora de uma relação apaixonada com o nosso lugar e o nosso tempo…

Esse empurrão foi sucedendo passo-a-passo em todos nós…

E de modo tão suave que transitamos não apenas de sítio, mas de caminho…

Nós já não fazemos a mesma viagem…

Muitos de nós nem sequer acreditam fazer viagem alguma…

Hoje, a turbe desesperada converte-se em chão magoado…

Para que outros alcancem a terra do paraíso….

E que esse paraíso seja ilusório, isso pouco importa…

Hoje foge-se de um futuro nado-morto…

Se olharmos hoje para o mundo vemos o universo…

Um universo de miséria inqualificável!

O que falhou, afinal, no Homem?

Ou terá falhado algo para além do Homem?

Talvez todo um sistema que se propôs tornar-nos mais humanos e mais felizes…

No passado, era preciso esperança para ter coragem…

Hoje é preciso coragem para ter esperança!

Outrora, nós sonhámos um futuro porque éramos sonhados por esse mesmo futuro…

Agora, pedimos ao universo que nos devolva a esperança…

Mas não obtemos resposta, o universo parece estar ausente…

A única coisa que ele nos diz é que ele teve voz enquanto nós fomos essa voz…

Enquanto nos calarmos, ele também permanecerá no silêncio…

O que significa que precisamos de recomeçar sempre e sempre…

Quem vive num labirinto, tem fome de caminhos…

E quem não mata a fome, fica amargurado, descrente…

Sobretudo, descrente no futuro…

Como se nos roubassem o nosso próprio passado…

Mas não caiamos no desânimo, pois essa é uma doença contagiosa…

E pode ser fatal…

O futuro não existe?

Mas que mal é querermos ter mais futuro…

Ou, pelo menos, um melhor futuro?

Só quem ainda tem crença é que poderá entrar neste jogo…

Cujo fim é reduzir a margem de perda e de risco…

Acreditar nisto é como devolver forças às pernas e pôr os pés ao caminho…

Já ouvimos dizer repetidamente que o nosso maior inimigo somos nós mesmos…

O adversário do nosso progresso está dentro de cada um de nós…

Mora na nossa atitude, vive no nosso pensamento…

Culpar os outros, o mundo, em nada nos ajuda…

Só avançamos se formos capazes de olhar para dentro…

E encontrar em nós as causas dos nossos próprios erros…

A haver futuro, ele começa, pois, em nós…

Aí, acreditamos que seremos não melhores…

Mas mais humanos e o futuro poderá ser um território nosso…

Onde o medo esteja tão ausente como nós estamos agora aqui…

Para celebrar algo que apenas se está a iniciar…

Tal como nos podemos iniciar a nós próprios…

Queres saber o que vais ser no futuro?

Pois, olha para o que fazes hoje!”


(In "Crónicas Mundanas...")

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