A POESIA... É DO LEITOR...

“O poeta inspira-se… A poesia nasce… O que fica a faltar? Lerem-me, caros leitores! Leiam-me como se eu fosse o vosso último alimento… Leiam-me como se não houvesse amanhã… Leiam-me e extraiam de mim a vossa derradeira inspiração… Leiam-me como se eu fosse o céu que vos sustenta… Ou, simplesmente… Como se eu fosse apenas um outro alguém… Ainda que sendo eu simples poesia... Leiam-me... Para que eu passe a fazer também parte de vós…”

18 outubro 2022

GOSTO DE POESIA... GOSTO DE LER AS PESSOAS E O MUNDO...

 

                                                           (Fotografia da Internet)


“Sinto-me feliz pelo facto da poesia inspirar a minha vida…

Pois, a poesia é um modo de ler o mundo e escrever nele um outro mundo…

Todos desejamos viver num mundo melhor…

Um mundo que tenha tudo de novo e muito pouco de mundo…

A isso alguns chamam utopia…

A palavra ‘utopia’ quer dizer o ‘não-lugar’…

Em contraponto com o lugar concreto que é o nosso mundo real…

Mas, curiosamente, também isso a poesia inverteu…

O chamado mundo real é aquele que se apresenta como um verdadeiro não-lugar…

Um lugar vazio onde cabemos apenas como ilusão virtual…

Não é o caso das palavras…

As palavras também nascem, envelhecem e morrem…

E conhecer a origem e a história das palavras faz-nos mais donos das palavras…

E, consequentemente, mais donos da nossa existência…

Ora, o drama é que hoje deixámos de ler a raiz das palavras…

Veja-se o exemplo da palavra ‘ler’ que vem do latim ‘leger’…

E que quer dizer ‘escolher’…

Pois, cada vez mais nós somos os escolhidos…

E deixámos de ler o mundo…

Falamos em ler e pensamos apenas nos textos escritos…

O senso comum diz que lemos apenas palavras…

Mas a ideia de leitura aplica-se a um vasto universo…

Nós lemos as emoções nos rostos, lemos o clima nas nuvens, lemos o mundo…

Tudo pode ser lido…

Depende apenas da intenção de descoberta do nosso olhar…

Queixamo-nos de que cada vez se lê menos…

Mas o deficit de leitura é muito mais geral…

Não sabemos ler o mundo, nem lemos os outros…

Deste modo, perdemos algo que que nunca chegaremos a saber…

Por isso, eu gosto de poesia…

De através dela desafiar o impossível e dizer o indizível…

Converter o real em aparência pura…

E, se possível, ler também as pessoas e o mundo…”


(Inédito)

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