“«…Quando
te vi amei-te já muito antes…
E tornei
a achar-te quando te encontrei»…
Este
é um dos mais belos poemas pessoanos que lemos…
E talvez
a mais sábia declaração de amor que conhecemos…
Pois
não reflete apenas um sentimento…
São
palavras que marcam o lugar indecifrável onde o amor brota...
E só
as profere quem amou para sempre…
Desde
o primeiro momento em que viu a sua amada…
Mas como
descrever este mistério do súbito encantamento?
Sim,
é como um feitiço em que o apaixonado fica possuído por uma imagem…
É
que não existem antecedentes que tivessem preparado aquele momento…
Tudo
acontece pelo simples olhar…
Será
que é nos olhos que o amor começa?
Só temos
aquilo que os olhos oferecem: uma imagem…
Mas…
Uma imagem não pode ser tocada, falta-lhe matéria…
Será
mesmo verdade que amamos com os olhos?
Ou será
a beleza que produz o encantamento?
Ou
antes a razão cerebral, que julga o que vê?
Não
sabemos… Amamos sem saber porquê…
Mas
alguma razão deve haver…
O
coração tem as suas razões, muito embora a razão as desconheça…
Ah! Esse
é o mistério!
Percebo
agora ao que se referia Fernando Pessoa quando dizia:
«Tornei
a achar-te quando te encontrei»…
As
razões do encantamento encontram-se nesse tempo anterior…
É lá
que vive a nossa amada adormecida…
Antes
que a vejamos naquele momento encantado presente…
Já a
amávamos…
Talvez
até a amássemos sempre, num tempo anterior ao agora…
Tempo
do qual já nos esquecemos…
Esta
é, pois, a mais sublime experiência do amor…
Que existe
dentro dessa bolha encantada, fechada em si mesma…
E que
subitamente nos extrai do presente…
É
uma emoção em estado bruto, irresistível…
Que
se apossa da alma, a domina e se basta…
A bolha
de amor é feita de dois olhares que se contemplam, encantados…
E se
fecham em si mesmos…
É
como se o sagrado se materializasse naquela imagem…
A
imagem que nos encantou…
A
ser assim…
O
sagrado é aquilo que amamos acima de todas as coisas…
E
ela… A nossa amada…
Aquela
que amamos acima de todas as coisas…
Ela é,
afinal, a mais sagrada de todas as coisas!”
(Inédito)
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