PEGADA POÉTICA: É HORA DE SEMEAR O MEU PÓ...

A POESIA... É DO LEITOR...

26 outubro 2022

É HORA DE SEMEAR O MEU PÓ...

(Fotografia de Luís Borges)

"Ah! Perdoem-me, caros Amigos...

Mas pretendo morrer longe de vós...

E encontrar sepultura nestas belas montanhas...

Salpicado apenas pelo pó...

E pelo sol...

Sabem... Estou cansado de jogar este jogo de fracassos da vida...

Estou demasiado encadeado por tanta lágrima e sorrisos...

Ah! É hora de semear o meu pó...

E fazer florescer novos poemas...

E flores...

Para que amanhã...

Ao menos vós, meus caros amigos...

Ao menos possam ser vós a colher um novo amanhecer...

E sorrirem..."

(In "A vida é um caminho... E deixa rastros...")

Sem comentários:

Enviar um comentário

QUEM SOU...

Sou apenas alguém… Não tenho ambições, nem desejos... Ser um humano social não é uma ambição minha... Gostaria apenas que me deixassem ser eu... O que penso do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Há metafísica bastante em não pensar em nada. E que melhor metafísica… Que aquela de não saber para que vivemos… Nem saber que o não sabemos? Que ideia tenho eu das coisas? Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? Que tenho eu meditado sobre Deus... E sobre a criação do mundo? Não sei! Para mim, pensar nisso é fechar os olhos… E não pensar. Nem sempre sou igual no que digo e faço... Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés... Os mesmos sempre, graças ao céu e à terra… E aos meus olhos e ouvidos atentos… E à minha clara simplicidade de alma... Sou místico, mas só com o corpo… A minha alma é simples e não pensa… O meu misticismo é não querer saber… É viver e não pensar nisso.... Procuro dizer o que sinto… Sem pensar em que o sinto... Procuro encostar as palavras à ideia… E não precisar dum corredor… Do pensamento para as palavras. Nem sempre consigo sentir… O que sei que devo sentir... Ao meu pensamento pesa-lhe o fato… Que os homens o fizeram usar... Procuro despir-me do que aprendi… Procuro esquecer-me do modo de lembrar… Que me ensinaram… E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos… Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras… Desembrulhar-me e ser eu, não o Sewendy Bo… Mas um animal humano que a Natureza produziu... E assim vivo, querendo sentir a Natureza… Nem sequer como um homem… Mas como um ser qualquer que sente a Natureza… E mais nada... Ainda assim, sou alguém. Sou o descobridor da Natureza…. Sou o argonauta das sensações verdadeiras... A espantosa realidade das coisas… É a minha descoberta de todos os dias... Cada coisa é o que é… E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra… E quanto isso me basta…. Basta existir para se ser completo... Nunca fui senão uma criança que brincava… De uma religião universal… Que só os homens não têm... Sou feliz porque não pedi coisa nenhuma… Nem procuro achar nada... A minha biografia, não será nada de complicado… Terá só duas datas: A da minha nascença e a da minha morte... Entre uma e outra cousa… Todos os dias serão meus... Sou fácil de definir: Vivo como um danado… Amo as coisas carregado de sentimentalidade… Compreendo que as coisas são reais… E todas diferentes umas das outras... Compreendo isto com os olhos… Nunca com o pensamento... Pois, compreender isto com o pensamento… Seria achá-las todas iguais... Trago dentro do meu coração, como num cofre que se não pode fechar de cheio… Todos os lugares onde estive… Todas as paisagens que vi… Todos os seres que amei... E tudo isso, que é tanto… É pouco para o que eu quero... Experimentei mais sensações… Do que todas as sensações que senti… Porque, por mais que sentisse... Sempre me faltou que sentir... Sou também um técnico… Mas tenho técnica só dentro da técnica… Queriam-me fútil, quotidiano e tributável? Se eu fosse outra pessoa… Fazia-lhes, a todos, a vontade... Tenho sonhado mais que Napoleão fez… Tenho apertado ao peito hipotético… Mais humanidades do que Cristo… Tenho feito filosofias em segredo… Que nem Kant escreveu... Mas sou, e talvez seja sempre… O que não nasceu para isso… Serei talvez sempre apenas o que tinha qualidades... Crer em mim? Não, nem em nada... Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente… O seu sol, a sua chuva… O vento que me acha o cabelo… E o resto que venha se vier… Ou tiver que vir… Ou não venha... Pois não sou nada… Nunca serei nada… Não posso querer ser nada... À parte isso… Tenho em mim todos os sonhos do mundo! (NOTA: Esta 'caracterização' do meu Ser, resultou da intertextualidade de pensamentos de Fernando Pessoa com os quais me 'identifico'...)