“O
amor continua a ser visto como um tema menor…
Apesar
de ser fonte de enormes sofrimentos para a grande maioria…
E de
grandes alegrias para um pequeno grupo de bem-aventurados…
De
facto, o amor é um fenómeno mágico…
Que
se apossa de nós de uma hora para a outra…
E
sem nenhum fundamento lógico ou racional…
Talvez,
por isso, poucos conseguiram estudá-lo…
E o
tema ficou reservado para os poetas…
Hoje
fala-se mais de sexo…
E
diz-se até que o amor é coisa de mulheres…
Os
homens são mais práticos…
Tudo
errado!
Na
realidade, os homens são mais românticos, pois encantam-se com mais facilidade…
As
mulheres agem de forma bem mais racional que os homens…
Mas
as reflexões sobre a racionalidade do amor…
Têm
muito a ver com os critérios de escolha dos parceiros amorosos…
Hoje
quando vivemos tempos mais ‘unissex’…
As
afinidades tornaram-se indispensáveis…
No
passado, os homens mandavam e as mulheres obedeciam…
A
ideia de complemento era, pois, bem prática e racional:
- Um
tem o que falta ao outro…
Não
só eram diferentes, mas opostos quanto ao caráter…
Hoje
as relações entre afins são muito raras…
Na
hora de se unirem, parece que são o testo e a panela…
Unem-se
por força das suas diferenças…
Discutem
o tempo todo por causa delas…
E
separam-se em virtude delas…
Ah!
Mas quando há paixão a sério…
Aí
despoleta-se um estado emocional alterado…
Até
há quem perca peso, outros dormem pouco…
Pensa-se
no amado o tempo todo…
Mas
sabem, nestes casos…
O
que está associado ao encantamento é um enorme medo:
- O
medo de que o amado desista da relação…
- O
medo de se entregar a ela e se diluir no amado…
- E
um medo ainda mais esquisito, o medo da felicidade sentimental!
É
como se ache que coisa muito boa atraia tragédia…
Tudo
parece desprovido de lógica…
Mas
o encaixe intenso provoca um medo explicável…
E
que deveria ser bem entendido e enfrentado…
Mas
nada disto tem a ver com o sexo…
O
sexo e o amor estão longe de ser parte do mesmo ‘impulso’…
O
amor tem a ver com o encontro de alguém com quem nos sentimos aconchegados…
Existe
uma sensação de completude que se rompe com o nascimento…
Desde
o nascimento, a sensação de desamparo e incompletude persegue-nos…
E é
atenuada através dos elos sentimentais…
É
claro que o primeiro amor que nos aconchega vem da nossa mãe…
Sendo os amores românticos adultos...
Apenas uma das formas de expressão desse
sentimento…
O amor
é paz e atenua a dor do desamparo…
É,
pois, um prazer chamado de ‘negativo’, ou seja, alivia uma dor preexistente…
Depende
da presença de uma outra pessoa, sendo sempre interpessoal…
Não
existe, pois, amor por si mesmo…
O
sexo é diferente:
-
Começamos por descobri-lo ainda crianças quando a curiosidade despertou…
E
passou a implicar todas as partes do corpo…
Permanecendo
pessoal ao longo de toda a vida…
Tão
pessoal, tão pessoal, que dá até para fazer sozinho!
E é prazer positivo...
Pois não depende de desconforto prévio para nos provocar as
suas sensações...
Ah!
Já o amor tem que ser paz, aconchego, companheirismo e ajuda recíproca…
Se
não é melhor ficar sozinho…
No
futuro próximo, não existirão mais casamentos de má qualidade…
Só
existirão as pessoas ‘bem-solteiras’ e as ‘bem-casadas’…
Os bons
casamentos são baseados em afinidades e recíproca admiração…
A
razão participa tanto das más escolhas como das de qualidade…
A
persistência em escolhas equivocadas é fruto da ação racional…
Que,
por medo do amor, opta por relacionamentos ruins…
Quem
sabe escolher mal também sabe escolher corretamente!
Não se esqueçam, então...
As relações de boa qualidade contemplam os 3 avais:
- O
erótico…
- O
do coração…
- E,
principalmente, o da razão…
Os
que negligenciarem as razões da razão…
Certamente estarão a envolver-se numa empreitada com prazo de validade curto…"
(Inédito)
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